VELHAS CORRENTES

Lêda Torre

Relendo antigos diários que os guardo com muito carinho, diga-se de passagem, escritos na minha adolescência e juventude, que carinhosamente os chamo de RETRATOS DE VIDA, pareceu-me lucidamente, que eu estava assistindo a um filme em série, tipo longa-metragem, cenas que se passaram na minha cabeça.

É interessante notar, a sequência de imagens, tais como eu as me lembro na dita época, congeladas, diga-se assim, os lugares, o tempo, as horas, os fatos, o próprio enredo, cada personagem real com suas peculiaridades, até as estações de estiagem ou chuvosas, que aqui no Maranhão chamamos de inverno ou verão, que na nossa terra, tradicionalmente é conhecido assim, sem deixar de ressaltar cada situação super interessante e, muito marcante.

Alguns momentos, me vieram à mente com bastante emoção, e sobretudo com muitas saudades, inclusive das pessoas queridas que jamais vou esquecer como meu pai, que era o melhor pai do mundo, a minha avó paterna, a nossa MÃE JÚLIA, que era um doce de candura, nunca estava zangada! amava muito seus netos, e tinha a paciência de Jó, como se diz. Meu avô materno, o vovô Senhorzão, então, era o nosso contador de histórias oficial, que tinha um repertório inesgotável, lembrando que ele além de ser descendente de portugueses e de negro, lindo com seus olhos bem azuis; era exímio artista em contar histórias de todo tipo, com seus personagens fantásticos.

Outra personagem que jamais vamos esquecer, era a Dona Joana da Norata, que neste recanto já fiz até uma homenagam a ela, nossa companheira de quando nossa mãe precisava viajar ou se ausentar por muito tempo, por algum motivo, ela ia lá pra nossa casa ficar conosco; afinal não tínhamos mais nosso pai conosco, essa era outra contadora de histórias, e fazia todo tipo de bolos, seu ganha-pão, fato até que a fazia conhecida por essa tão grande habilidade. Quando mamãe a deixava conosco, ela vinha mais pra dormir, e sempre trazia para nós lancharmos, os seus bolos deliciosos, de puba, de macaxeira, de trigo, de tapioca, as famosas petas e voadores, as deliciosas broas de tapioca, enfim, dos variados tipos que ela fazia e vendia lá fora.

Pois bem, de todas essas lembranças, uma que me chamou a atenção em meus diários, foi essa história de velhas correntes. Era assim: as pessoas traziam uma cópia datilografada de uma dada oração, contando os tais "milagres e graças" que alguém havia alcançado, em tal lugar, de algo tal, etc, etc e, que a gente ao receber uma dessas cópias, teria que passar adiante uma vinte cópias delas, ou à mão ou datilografada, e eu mesmo não acreditando, ficava com medo e fazia até altas horas da noite, aquelas cópias, normalmente umas vinte, escrevia mesmo no punho, com carbono e ufa! depois saía entregando para as pessoas colegas que eu conhecia.

E como podemos perceber, as velhas correntes perduram até hoje por email, e quando as vejo , meu pensamento volta ao passado, mesmo não acreditando, mas meio assim, relutante, por que ainda as fazem, porém, graças a DEUS que a segurança que Deus me dá é o mais importante, somente Ele pode tudo. Hoje, para mim, correntes, só a do pensamento, as do mar....e as da vida.

___________São Luis, 24 de fevereiro de 2011_______

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 25/02/2011
Reeditado em 23/06/2021
Código do texto: T2814366
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