35 Ia pensando na ida para Londres na ida para Giverny

Enquanto conduzia o ‘renaut clio’ verde da Olga, com a Olga ao meu lado e o neto da Olga no banco de trás, fui-me chegando à cabeça, como cacos de azulejo encontrados em escavações depois juntos um a um, pedaços do pesadelo da véspera e fragmentos das peripécias para comprar na net as passagens e reservar quarto em Londres.

Por mais de trinta quilómetros de estrada, trigo, trigo e mais trigo por ceifar, colza e colza, algum milho, pareceu-me ver beterraba, não tenho a certeza, e uma ou outra novidade de espécie diferente das que indiquei, de um e do outro lado da estrada entre Neaufles – St. Martin e Giverny.

Lembro-me de ter sonhado com a tia Natália, a tia que me criou, de ter acordado em sobressalto, de ficar depois a variar do juízo o resto da noite, sem sono, afugentei o sono, por ter sonhado que ela tinha morrido.

Depois, entre muita outra tolice que veio à baila não sei como, é um mistério saber de onde será que o cérebro vai desencantar aquilo tudo, felizmente não me lembro nem de metade do que sonhei, peguei a pensar nas peripécias para reservar quarto e comprar passagem sábado para Londres. Não fora o William e eu ficaria a ver Londres sentado á janela da Olga em Neaufles.

Um hotel com três estrelas, a um bom preço, Londres é uma cidade cara, mesmo no centro, perto de tudo, o ideal para mim, estava esgotado, outro, um pouco mais longe, também esgotado, um outro, nem pensar, pesquisa bem feita, fotografias vistas e textos lidos, eram só camaratas com gente a dormir ao monte, até que por fim demos, o William deu com um a sete quilómetros do centro que oferece pequeno-almoço e net sem fios de borla. Ainda estou para ver se a internet é à borla.

Comboio ou avião? Acabei por decidir ir de comboio. É mais barato e pára mesmo no centro de Londres. E leva só duas horas. Além de ir pelo túnel da mancha.

Escrevi primeiro isso na cabeça, depois, quando estacionei o carro no parque do Museu Monet, enquanto a Olga retirava o neto do banco de trás, da cadeira para crianças no banco de trás, e seguiu o seu caminho, eu fiquei atrás a passar isso para o bloco de notas que agora quase chegou ao fim.

Formalidades burocráticas para ir a Inglaterra? Fui ao Google. Como toda a gente faz. O cartão de cidadão serve? Serve. Óptimo, é que os ingleses, britânicos, usam ainda o passaporte e eu não trouxe o meu. Era que vou ter problemas na alfândega? Vamos ver.

Reduzi os custos da passagem, mas não havendo normalmente rosa sem espinhos, se chegar atrasado menos de meia hora antes da partida do comboio perco a passagem. Está escrito.

Júlio, que sugeres que o pai visite em Londres? Resposta à mensagem: o estádio do Chelsea. Mas, deves ter outros planos. Resposta minha: Júlio, além de ir a um pub beber uma cerveja Porter, the real ale, está tudo em aberto. Diga-se que a porter é uma cerveja preta. Como eu gosto.

Boa viagem pai. Quando chegar dou-te um toque filho. Até logo.

Giverny, 15 de Julho de 2010

Mário Moura
Enviado por Mário Moura em 25/02/2011
Código do texto: T2814375
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