O maior espetáculo da terra.

Eu adoro parar para ver essas rodinhas que fazem nas vias públicas. É que eu sou curió mesmo e não tenho vergonha de falar.

Aqui em São Bernardo, na Praça Lauro Gomes, já vi falso índio vacilar e levar dentada de jibóia, evangélico sei lá de que igreja preparar o “som”, encher os pulmões e falar uns 20 minutos sem atrair a atenção de ninguém. Agente passa, vai comer um pastel na feira “hippie”, volta e o sujeito tá lá. Dá até dó!

Tem também os mágicos que vendem os truques. Eles fazem o negócio tão bem feito e você tão maravilhado que acaba pagando R$ 10,00 por um barbante, uns outros pequenos apetrechos e o principal: um bilhetinho (xerografado com letrinhas bem pequenas e borradas das tantas cópias sobre cópia) contando o segredo. Depois de ler o segredo, você fica se sentindo um idiota de tão simples que é a coisa e ninguém vê! E o pior, além de perder o encanto, em casa para aparecer, você vai fazer sem antes treinar, deixa escapar algum detalhe e acaba entregando o ouro, ou seja, um monte de gente fica sabendo do segredo sem pagar nada e você com cara de bunda.

No centro de S. Paulo tem muitas dessas rodinhas. Tem uns nordestinos repentistas, bons pra caramba, mas também já vi outros perderem a rima e mastigarem um “uunhão, uunhão...” Antes de me mudar de São Bernardo gostaria de ir até lá de novo, ver se encontro o Rodela para o ver imitando o Predador. É incrível, parece melhor que o do filme!

Há muito tempo, isso já tem uns vinte e tantos anos, foi nos tempos do Mappim ainda, eu parei numa rodinha dessas no calçadão em frente ao Teatro Municipal. Tinha uns caras desempregados de algum circo, estalando um chicote feito de ráfia e sisal, o cabo enrolado por fita isolante com o qual ia cortando tiras de jornal, arrancando cigarro da boca do outro... E foi chegando gente.

O momento principal da apresentação seria o salto que o maior deles iria dar, por dentro do aro de uma roda de bicicleta (sem os raios) adornada com um monte de facas de cozinha da Tramontina amarradas com barbante e apontadas para dentro da roda aonde o artista iria se atirar com os olhos vendados. Sarado, sem camisa e com uma calça de agasalho bem surrada, ele pediu silêncio para a platéia (em plena Praça Ramos de Azevedo!) para se concentrar. Respirou fundo e ficou se concentrando. Depois de um minuto e meio, mais o menos, duas senhoras ferraram num papo paralelo ao espetáculo.

O artista saiu da concentração e pediu:

- “Pur favor vâmo fazê silêncio!” E voltou a se concentrar. Só que ele ficava muito tempo parado e as mesmas senhoras que continuaram falando baixinho, se desconcentraram e voltaram a falar alto de novo. Aí o artista interveio de novo, agora enfezado:

- “Vâmo fazê silêncio pô!”

Todo mundo obedeceu e ele voltou à concentração. Mas o cara estava demorando muito na concentração. Um, que deveria estar a mais tempo que eu naquele sol de meio-dia, não se conteve e gritou, lá do outro lado:

-Puula!

O rapaz entendeu “mula” e respondeu:

-Muula é a mãe!!!

Eu vou correr o risco de perder uma dessas?

Halmenara
Enviado por Halmenara em 25/02/2011
Código do texto: T2815149
Classificação de conteúdo: seguro