O silêncio na amizade

O silêncio é o avalista da grande amizade.

Quando há constrangimento no silêncio, na pausa que encerra um assunto, desconfio que não há grande amizade. O que não chega a ser ruim, pois é com pequenas e grandes amizades que enriquecemos a vida. Mas não há dúvidas: quando o silêncio deixa de configurar um drama e a mente não precisa trabalhar de forma alucinada à procura de uma frase qualquer, estou diante de uma grande amizade.

Acredito que todos tenhamos bem mais amizades pequenas do que grandes. Acumulamos amizades superficiais (sem o tom pejorativo normalmente atribuído ao termo) de acordo com a nossa habilidade e pré-disposição. E se os grandes amigos são os que fazem a vida valer a pena, os pequenos amigos quebram um bom galho na ausência quase sempre frequente e inevitável destes senhores. Com sua parceria, amenizam o silêncio das grandes ausências, que também avalizam a grande parceria.

O único problema das pequenas amizades é que elas nos exigem estar sempre driblando o silêncio. E o quebramos com um novo tema qualquer, o mais banal, apenas para cumprir tabela. A quietude, que tanto aprendemos a respeitar na presença dos grandes amigos, há de ser feridacom uma bobagem qualquer apenas pela nossa insegurança diante da nova amizade. Tem que se ter sempre um assunto, ser legal e eloquente.

Se derrotados pelo silêncio, eu e meu pequeno amigo estaremos condenados a achar um ao outro entediantes, ou a duvidar da nossa própria capacidade de fazer amigos. Tudo porque o silêncio ainda depõe contra essa pequena amizade. E avaliza as que a ele resistem.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 25/02/2011
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