No Natal da Zelinha
Fomos pra e voltamos de Fernando de Noronha via Natal, o que acabou sendo ótimo por dois motivos: um, eu não conhecia a cidade; dois, eu queria conhecer a colega recantista Zélia Maria Freire ao vivo e em cores. Matei os dois coelhos com uma caixa d'água só. Mas fiquem tranquilos: ambos sobreviveram.
Nossa passagem por Natal foi bem ligeira. Mas posso dizer que a impressão que ficou foi de uma cidade limpa, organizada e bem mais metropolitana do que eu supunha - posto que é uma das pouquíssimas capitais brasileiras com menos de um milhão de habitantes. Inclusive foi com um certo alarme que percebi o "boom" de construção de grandes prédios, pra onde se olhasse, porque é sabido e notório que a alta densidade populacional faz mal à saúde de qualquer cidade.
Outro fato que me chamou a atenção foi a inexistência de favelas ou de qualquer sinal de miséria abjeta, pelo menos por onde passei. Mesmo ao olhar lá de cima, de dentro do avião, só via ruas bem ordenadas, ainda que fossem de terra batida no entorno, e casas decentes, ainda que fossem bem simplesinhas. Nas ruas, o povo tem uma aparência digna. Na zona rural, chácaras bem cuidadas e plantações viçosas.
Ah, e lá não se diz "em Natal" ou "na Natal" - diz-se "no Natal". Tem sentido, já que a gente topa com os três reis magos o tempo todo e em todo lugar. É que o forte, que deu origem à cidade, foi fundado no dia de reis. Daí...
Ah, sim, e a cidade foi fundada no dia 25 de dezembro.
Claro, como boas turistas que se prezem, fomos conhecer o forte, a via costeira e o maior cajueiro do mundo - que fica no município vizinho, Parnamirim, onde também se localiza o aeroporto. Demos também alguns bordejos pelos bairros mais centrais e, no mais, revezamos um bocadinho da praia com uns camarõesinhos ao alho e óleo e com um mergulho na piscina e com uma água de coco fresquinha e com a hidromassagem com vista pro mar e com umas iscas de peixe regadas a cerveja bem gelada, enfim, um sofrimento sem fim... ô, vida dura!
Na volta, no único dia disponível, apesar de estar muito cansada depois da maratona de passeios e tanta andança em Fernando de Noronha - afinal, não sou mais uma garotinha e tenho o preparo físico próprio de quem trabalha sentada o dia inteiro -, fiz questão de me encontrar com a Zelinha.
Que fique aqui bem registrado: ela é tal e qual aparece nas fotos, ninguém diz que é avó de um belo rapagão de quase 1,90 de altura e de uma bela moçona morena. O sorriso fácil e tranquilo, o jeitão de bem com a vida, a conversa que vai da mais solene filosofia pras amenidades da vida sem que se perceba um sobressalto, é tudo igualzinho ao que a gente testemunha na sua escrivaninha.
Pena que tivemos pouco tempo, porque a conversa fluiu feito riacho sem pressa e, se pudéssemos, tenho certeza que ali tinha papo pra mais de quilômetro. Mas eu e a maninha tínhamos que acordar de madrugada pra pegar o avião que sairia de manhã bem cedinho de volta pra casa.
O que me faz lembrar: viajar é muito bom - expande nossos horizontes literalmente, enriquece o espírito e faz bem pra pele -, mas, pra mim, o melhor lugar do mundo é o meu cantinho. Por isso mesmo acho bom viajar de vez em quando - que é pra poder ter a perspectiva da volta.
E ainda colecionar um monte de preciosas e gratas recordações.