AS DÚVIDAS

AS DÚVIDAS

Francisco Obery Rodrigues

oberyrodrigues5@hotmail.com

Já quase no fim desta tarde, chego à janela e contemplo um céu pejado de nuvens escuras. Logo, logo, porém, o vento as levou, deixando apenas alguns fragmentos, pedaços de algodão. Agora está plenamente limpo, num fundo todo azul. Daí a pouco, o tempo escurecendo, alguns pingos de luz começaram a aparecer no firmamento, num impressionante espetáculo, deixando, em pouco tempo, cravejado de estrelas cintilantes, esse mesmo firmamento que circunda a Terra e é visto, à noite, em todos os países. .

Fiquei, então, a admirá-lo e, como se tornou quase um hábito, passei a meditar sobre os mistérios que esconde. Enfim, o que é o Céu? É só esse incomensurável espaço onde se movem milhões de estrelas, milhares talvez ainda não vistas pelo homem? Essa maravilhosa abóbada que é vista da mesma forma em todas as latitudes da Terra, e que, a meu ver, ainda não foi convincentemente explicada pela Ciência? Conforme a Bíblia Sagrada, é a morada de Deus, com seus santos e anjos. O lugar paradisíaco onde já estão e para onde irão todas as almas daqueles que, em vida, fizeram por merecê-lo?

Tal mistério, que já vem, há tempo, inquietando a minha mente, induz-me a um corolário de outras indagações e suscitando algumas dúvidas que, confesso, até me atribulam a alma. Quisera não tê-las e até peço constantemente a Deus que ilumine o meu espírito ou afaste do meu pensamento tais reflexões, tranquilizando esta minha pobre psique, sedenta de Luz e de Paz, esta alma que um dia se desprenderá do corpo e não sei onde buscará refúgio. Em um dos despretensiosos livros que escrevi, afirmei que, ao partir, gostaria de reencontrar meus pais, meus irmãos, meus parentes, meus amigos queridos. Mas, como se dará isso? Onde e como iria identificá-los e revê-los em meio a um número infinito que, há milhões de anos, vem se desencarnando? E, sendo a alma incorpórea - sob o ponto de vista filosófico, desde Aristóteles a Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e outros pensadores, são inúmeros os conceitos que nos induzem às reflexões. Como estarão “agrupadas”, por assim dizer, segundo o seu comportamento na Terra – umas plenamente devotadas a Deus, outras nem tanto, mas isentas de pecado - aguardando o julgamento no final dos tempos? Quem me ler, que possa perdoar-me pela “ingenuidade” de tais argüições.

Certa vez, conversando com um colega do Banco do Brasil, revelei minhas preocupações pelas dúvidas que me assaltavam, e ele disse: “Obery, quem não as tem?” E eu divergi: com certeza São Francisco de Assis e outros grandes mártires da Fé, que dedicaram suas vidas totalmente ao serviço de Deus. Ele, então, respondeu: “Quem sabe?”

Talvez seja bom ressaltar que minhas dúvidas não são resultantes de qualquer influência de pensadores ateus, os iluministas ou outros; nem significam, absolutamente, a ausência de Fé. Creio na existência de Deus, que foi Ele quem tudo criou, e creio em Jesus Cristo, e em sua Palavra. São outras as questões que nem ouso revelar; guardo-as no mais íntimo de mim, até mesmo por temor de ofensa, embora sabendo que Ele já as conhece e, por isso, peço-lhe que me perdoe a ousadia – ou a ignorância - de tais dúvidas e me conceda a graça da Luz. Esta, tenho-a buscado na leitura da Bíblia, porém a minha capacidade de interpretação de algumas, ou de muitas passagens, em vez de trazer-me a serenidade da qual necessito, me afligem o espírito. O que me tranqüiliza é a certeza de que o que me falta é apenas uma mente capaz de entender; mas esse entendimento, tenho certeza, virá com a meditação necessária, com a leitura dos exegetas, que estou sempre buscando.

Hoje, neste primeiro domingo do meu mês mágico, que é setembro, li na revista Veja uma notícia a respeito da Madre Teresa de Calcutá, que, por total devoção e obediência à Palavra de Deus, através de Jesus Cristo, dedicou toda a existência a cuidar dos desvalidos, dos que estavam com fome, dos doentes, de todos os que necessitavam de apoio e carinho; lí que ela, em cartas ao seu confessor, padre Brian Kolodiejchuk, teria revelado a angústia de suas dúvidas. Até fiquei pensando: não seriam algumas delas semelhantes às minhas?

Já o Papa Bento XVI, em visita aos campos de concentração nos quais Hitler mandou matar milhões de judeus, num deles, quando se deparou com o quadro dantesco, teria se perguntado, atônito: “Onde estava Deus?”. Lembrei-me, então, do estupor que senti quando vi pela televisão, faz já alguns anos, as cenas terrivelmente chocantes ocorridas por ocasião das guerras tribais africanas: multidões em desespero, em meio às quais crianças nuas, esquálidas, sugavam os peitos secos de mães esqueléticas, semimortas de fome, cenas chocantes que ainda guardo na mente, sem compreender.

Até exponho estes pensamentos com o temor de um homem que caminha no deserto da ignorância, em busca de um oásis, uma fonte de luz e sabedoria. A Deus, que sabe de tudo, que conhece os nossos pensamentos mais recônditos, peço que me perdoe esta inquietação. Serão tentações do Demônio querendo roubar-me a pobre alma? Para quê, se certamente, já tem tantas? A minha alma é pequenina, sem maior valia, em nada alimentará sua “fogueira”; é sentimental e humilde, pacífica, tímida e retraída, e não suportará o ambiente barulhento e de extremo calor do seu “reino” infernal.

Setembro de 2010.

Obery Rodrigues
Enviado por Obery Rodrigues em 26/02/2011
Código do texto: T2816694