Crônica de um incapaz

Morte. Um tema que evitamos, porém se faz presente sempre que temos contato com a vida. E vou confidenciar que até escrever sobre o assunto é difícil. Causa tristeza e desconforto, principalmente quando lembro das pessoas que se foram da minha vida.

Gente como meu pai, seu Djalma; minha mãe, dona Geny e meu filho mais velho que não chegou a ter um nome, entre tantos outros.

E por que a morte? É que ontem eu precisava de uma conversa. Precisava falar com alguém sobre este tema. E assim foi, com meu sobrinho, Rodrigo. Um rapagão de 1,90m, 24 anos, atleta, casado recentemente com a Juliana. Nosso bate papo foi desde as tentativas sem resultados aparentes, até as dores da existência que nos faz ver que a vida é breve e que na verdade morremos um pouco a cada dia. Lembrei a ele de algumas dores que verdugam minha vida. Ele falou sobre os frutos de algumas escolhas. Em fim, foi muito legal. Com um detalhe: assumimos, ainda que por um breve tempo, que não somos feitos de bravuras, vitórias e heroísmos; muito pelo contrário, somos feitos de barro e como tal, convivemos com o peso da existência que geme além das nossas máscaras.

Me senti aliviado. Como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas. Ainda posso falar de meus medos sem a preocupação do que as pessoas vão pensar. Que bom que posso! Que legal que posso assumir minha condição de mortal, sem discursos prontos que, na verdade, não levam ninguém a lugar algum, e que bom que posso chorar com o Adriano.

Quem é Adriano? é o pai do Renan, um menino de 18 anos que morreu atropelado por um caminhão. Havia uma frustração em mim por não saber o que falar. Olhei nos olhos daquele pai e veio tanta coisa, mas nenhuma como verdade. Só chorei com ele e em meio aos escombros emocionais procurei as lembranças das Promessas da Restauração da Vida. Só que me permiti viver o momento, chorar e desabafar.

Hoje acordei melhor. Choro na alma ao escrever estas linhas, mas estou mais disposto. Algo Maior que eu brada em meu coração que a morte não é o fim. E que "Toda lágrima será enxugada". Assim, vivo. Na sombra da morte. Num corpo de barro. E na esperança de que um dia "Tudo será novo".

Dedico este pequeno ensaio, a todos que viveram, ou vivem, a dor da separação.

Um beijo...