REFLEXÃO SOBRE A CEGUEIRA DO SER NO MUNDO

Reflexão sobre a cegueira do ser no mundo

Regina Roppa Evilasio

Certo dia ouvi a seguinte frase: “ A fé é para ser sentida”. Imediatamente, pensei em Heidegger, no Daisen, no ser como clareira, pois como disse-me uma professora de filosofia, a teoria heideggeriana é algo para ser sentido, digerido, muito mais que pensado. Então, a ontologia e a metafísica não estão distantes. A diferença consiste em que na metafísica coloca-se o sentido do ser “coisificado”, enquanto que na ontologia o ser é, está no mundo, atua e é atuado. Não é fácil falar de Heidegger e de sua teoria, pois é algo a ser mais que aprendido: apreendido. É preciso compreender-se no mundo, mas, além disso, compreender-se parte dele, como aquele que significa e é significado.

Estudar Heidegger levou-me a pensar que muitos dos conflitos enfrentados pela psicologia e psiquiatria, relacionados à autoestima, valores, ética, entre outros, poderiam ser resolvidos se a sua teoria fosse mais conhecida, pois a maioria de nós (talvez todos?) vive sim uma vida inautêntica, pautada em valores sociais fúteis que nos levam apenas a reprodução de padrões predeterminados. Esse é um discurso considerado por muitos piegas, mas é bem fácil rotular quando não nos dispomos a pensar sobre o significado real do que é exposto, do que está escancarado à nossa frente e não queremos ver. Pensar leva tempo e nosso tempo deve ser usado para o que chamamos “aproveitar a vida”. Que vida? Se estamos o tempo todo correndo atrás de dinheiro, status, do que é mais rápido, mais fácil... Aqueles que não se enveredam no caminho padronizado, são marginalizados, considerados “esquisitos” e, portanto, excluídos. Este é o grupo que precisa ter muita firmeza e acreditar que o seu modo de ser no mundo faz diferença, se não para os que o criticam, certamente para a manutenção de equilíbrio e harmonia que ultimamente está em falta no mundo.

Nossa sociedade está doente, cega, não consegue enxergar o mal que se impõe. Não consegue colocar em prática as teorias aprendidas. Penso que há um desperdício de vida e de tempo quando, por exemplo, uma pessoa se dedica fazer um curso superior para apenas receber um título. É o resultado daquilo que a sociedade valoriza. Decepciono-me ao ver pessoas que vestem as camisas estampadas como educadores, mas que não têm a capacidade de cumprimentar cordialmente um colega de trabalho e nem tampouco seu aluno.

Condutas inadequadas, vez por outra, quem não as tem? O problema é permanecer nessa inadequação e querer convencer os outros de que há justificativa para sua postura. Aceito os educadores que não têm conhecimento suficiente da matéria ou que são inseguros diante da classe. Conheço alguns que conseguem conquistar alunos e comunidade por seu carisma e afeto. Com um pouco de tempo e esforço sanam suas deficiências. Mas não consigo digerir e não há como justificar educador sem educação (não falo de diplomas, mas aquela que é trazida do berço, da família, sabem?). Estamos carentes...

Precisamos resgatar a humanidade que há em nós para trilharmos as clareiras.

Precisamos resgatar a autenticidade de viver para enxergarmos a vida.

Precisamos resgatar a compaixão antes que nos tornemos apenas marca de destruição.

Precisamos de alguma fé.