NA FAZENDA DO CORONEL FILOMENO...

NA FAZENDA DO CORONEL FILOMENO...

O Coronel Filomeno era o mais velho dos dez filhos do Sô Ataliba, também rico fazendeiro da região de Guaraciaba. Morava na fazenda Três Potes e cultivava perto de quinhentos mil pés de café. Qualquer festividade na família era comemorada com muita alegria e participação, não só dos parentes como dos amigos. Podia ser batizado dos filhos ou netos, primeira comunhão, aniversários. Casamento de um filho , então, era festa para mais de uma semana.

O Coronel Filomeno e sua esposa Dona Arlinda tinham oito filhos: quatro homens e quatro mulheres. A Quitéria, a filha mais nova, já estava de casamento marcado com o Belisário, filho de um também rico fazendeiro da região, o Coronel Ludovico. Para este casamento o Cel. Filomeno estava disposto a fazer a maior festa que a região já presenciara. Dois meses antes, ele e a sua esposa foram ao Rio de Janeiro comprar o vestido da noiva e as roupas para toda a família. Ir ao Rio não era tão difícil assim, bastava que fossem até o povoado de Vau-Açú e lá tomassem o trem da Leopoldina. Esta estrada de ferro teve o seu primeiro trecho inaugurado por D.Pedro II, em 1874. Fazia o percurso de Raul Soares ao Rio, passando por Ponte Nova, Teixeiras , Viçosa, Visconde do Rio Branco, Ubá e outras cidades da zona da mata, em direção ao Rio.

Tudo foi planejado tendo em vista a suntuosidade da festa. A Capela da fazenda recebeu uma boa reforma, assim como a casa sede. Todos os amigos do Coronel foram convidados , sendo eles, principalmente, das cidades de Piranga, Calambau, Porto Firme, Viçosa e Ponte Nova. A Filarmônica Antonina, de Calambau, comandada pelo maestro Domingos do Morro, foi convidada para abrilhantar a festa. Uma semana antes, já começavam a chegar os parentes mais próximos e o clima na fazenda já era de festa.

À noite, o movimento era intenso: meninos brincando no terreiro e, mais tarde, um bailinho com o sanfoneiro Zé Osório, vizinho da fazenda . Os homens, nas grandes mesas da varanda, jogavam baralho até altas horas.

Na véspera da grande festa, chegou o Padre Aristides, tio do noivo, que iria fazer o casamento. O Coronel ficou um pouco ressabiado com a chegada do Padre, já que o pessoal havia programado dançar até de madrugada e ele não sabia qual seria a reação do Padre. Quando soube o que estava ocorrendo, o Padre chamou o Coronel e autorizou a realização do baile, pois tratava-se de um ambiente familiar. O fato é que tudo correu dentro do previsto. Todos estavam muito satisfeitos.

O Coronel tinha a mania de falar em voz baixa o que estava pensando, o que algumas vezes o prejudicava no jogo, pois costumava falar quais as cartas de que era possuidor, facilitando as jogadas dos outros jogadores.

Naquela noite, a jogatina era animada na fazenda e uma das mesas em que estava o Coronel ficava em frente ao quarto dos noivos. Lá pelas dez horas, o noivo sai do quarto, de camisola, vai até a moringa que estava na mesa da sala e toma dois copos de água. O Coronel resmungou: - achou que ia ser fácil, né? Os companheiros da mesa fizeram que não ouviram...Cerca de duas horas depois, volta o noivo, vai até a cozinha e vem com um vidro de azeite doce. Aí resmunga o Coronel: - não sabia que azeite doce tinha essa serventia... Foi a vez de todos da mesa caírem na gargalhada.

E o jogo continuou...

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P.S.: Os fatos são reais, os nomes de pessoas e lugares são fictícios.

Murilo Vidigal Carneiro – fevereiro de 2010.

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 01/03/2011
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