O PERFUME

Naquele tempo, todas as vezes que o namorado da Helô chegava, seu pai mandava Anica, a irmã mais nova, vigiá-los na rua.

Beto era um rapaz bonito, louro, moderno, bem de vida e cada dia aparecia com uma novidade.

Numa noite, Anica viu o seu futuro cunhado cheirando um lenço e perguntou-lhe:

-O que é isso?

- É um perfume. Você quer cheirar um pouquinho?

-Quero.

A menina sentou-se na beirada da calçada e cheirou o lenço branco.

Na outra calçada, vinham quatro mulheres da igreja e a garota as viu andando de cabeça para baixo. Ela achou um barato.

Na outra semana.

-Beto, é o mesmo perfume daquele dia?

-É sim. Você quer dar outra cheiradinha?

-Claro! Quero ver mais gente andando de pernas para cima. É muito legal!

-Então, cheire com força.

-Por quê?

-Porque é melhor.

O rapaz encharcou o lenço e ela caiu durinha para trás.

-Meu Deus! Matei a menina!

Anica viu muitos bois no pasto, em fila indiana, pulando uma cerca. Era boi que não acabava mais. Uma boiada inteirinha.

-Anica! Anica! Acorda! O que aconteceu com a nossa filha, Madá?

Com muito custo, a caçula acordou, abriu os olhos e viu toda a sua família em sua volta, na cama dos seus pais.

-O que estou fazendo aqui, mamãe?! Cadê o Beto com o perfume?

-Ele foi embora há muito tempo. - Falou a irmã, muito nervosa.

-Helô, que perfume é esse que sua irmã disse? Você sabe de alguma coisa? Fala!

-Ah, papai, eu não sei de nada! Essa menina está delirando!

Durante um bom tempo, o moço não apareceu para namorar.