Espetáculo da vida

Esther Ribeiro Gomes

‘Chegará um tempo em que as pessoas precisarão muito admirar

o espetaculoso e a vida dos outros para compensar

o desinteresse de suas próprias vidas, numa ilusão de que

fazem parte de um cenário mais colorido e movimentado’

(GUY DEBORD)

Em 1968, o pensador francês Guy Debord em seu famoso livro ‘A sociedade do espetáculo’, previu o que vem ocorrendo nos dias de hoje.

Ao longo do tempo, os valores morais foram perdendo espaço para os valores materiais, nesta sociedade essencialmente consumista.

Essa inversão de valores vem transformando as pessoas em seres individualistas e egoístas, que fazem tudo para aparecer na ‘sociedade do espetáculo’.

É preciso ter o carro do ano, a roupa de grife, a casa de praia, mesmo que, para isso, se endividem por longos anos...

É preciso ter o corpo perfeito, haja vista as academias lotadas, fazer incontáveis plásticas, enquanto a pobreza de espírito esvazia a alma e o coração!

O mundo moderno está cada vez mais repleto de gente estressada, deprimida, insatisfeita, vazia e infeliz...

Os filhos adolescentes estão cada vez mais exigentes, porque, para serem aceitos, precisam ‘aparecer’ e se sobressaírem na turma.

Se os pais não conseguem satisfazer suas exigências, muitas vezes absurdas, então vêm os desentendimentos, revolta e consequente desarmonia no lar.

Mas como repreendê-los, se muitos deles cresceram recebendo lições de consumismo dos próprios pais?

Se desde pequenos não aprenderam a valorizar os bens imateriais que enriquecem o espírito e formam um caráter fincado em valores morais?

O homem moderno tem cada vez mais acesso a tecnologias de ponta

que formam seres humanos cada vez mais exigentes, fúteis e insatisfeitos.

São computadores, televisões, aparelhos celulares e outros que ficam ‘obsoletos’ e são trocados mais de uma vez ao ano...

Esse consumismo desenfreado gera angústia e insatisfação, levando as pessoas a agirem feito crianças mimadas que ganham brinquedos demais e logo se desinteressam deles.

Shakespeare disse sabiamente: ‘Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos.’

Porque a alegria que buscamos está em valorizarmos as coisas que conquistamos, em vez de sofrer pelo que não temos.

É preciso saber viver, como diz a canção, enriquecendo o espírito para alcançar sabedoria e serenidade.

Infelizmente, a sociedade moderna precisa de barulho, do espetaculoso, de novidades e emoções diferentes, para preencherem o vazio que aumenta cada vez mais.

Vivemos hoje um paradoxo, em que o ser humano tem a seu dispor altas tecnologias facilitadas por prestações a perder de vista, enquanto a felicidade, sua maior aspiração, está cada vez mais longe dele, porque está na alma que não cultiva!

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 02/03/2011
Reeditado em 02/03/2011
Código do texto: T2825135