"- POSITIVO, OPERANTE! ..."

Manhãzinha chuvosa, lá vou eu rumo à Padaria Tulipão pra buscar os pães quentinhos e aqueles biscoitos de queijo, tipo gravetos, que a minha mulher tanto aprecia. Enquanto isso ela já preparava aquele café preto, quente e cheiroso do jeito que o diabo gosta (e eu também)! ...

Passo defronte à farmácia e o Carlão, o segurança, já está firme no seu posto, de olhos e antenas ligados no pedaço. É um moreno robusto, simpaticão, bom de prosa e muito solícito. Às vezes, antes do almoço, dou uma paradinha na esquina e batemos um papo ligeiro, quando fico inteirado das novidades e do que ocorreu naquele quarteirão:-

“- E aí, Carlão, tudo em cima? Alguma novidade? ...” – e ele, rápido e rasteiro:-

“- Federal, “Seu” Roberto. O senhor é federal! ...”

Ando mais um pouco, passo pela Banca de Jornal do “Seu” Nelson, dou uma pescoçada nas manchetes das publicações expostas e me dirijo à padaria, lá do outro lado da rua. Quando vou chegando, vejo dois vagabundos sentados sobre os papelões de embalagens na calçada, olhos empapuçados, cabelos desgrenhados, dando sinais de que talvez tivessem dormido por ali sob a marquise. Um deles, magrelo, bochechas avermelhadas de tanta cana, ergue-se rápido, fixa-me um olhar atento, apruma o corpo em posição de sentido e bate continência, exclamando:-

“- Positivo, operante! ...”

Meneio a cabeça e dirijo-lhe um sorriso amistoso, levando a mão direita à testa e respondendo à sua continência:-

“- Positivo! ...”

Adentro o recinto da Padaria Tulipão, cumprimento o "Seu" Antonio, proprietário, Bernardo, o gerente, a Vera, Regiane, Tatiana e demais meninas do atendimento, escolho os pãezinhos quentes, os biscoitos e mais alguma coisa, enfrento a pequena fila do “Caixa” onde o Flavio me abre o sorrisão costumeiro e logo estou de saída para a minha casa, já imaginando a mesa posta e o café quente me aguardando.

Ao passar de novo pelos dois vagabundos, o magrelo levanta rápido, bate continência de novo e grita, em posição de sentido:-

“- Positivo, operante! ...” – e eu, novamente sorrindo:-

“- Positivo, colega! ...”

Chego à esquina, defronte à farmácia e o Carlão está de papo com a morena da boutique do lado, olhar lânguido e conversa mole. Lembro-me dos dois vagabundos e do magrelo batendo-me continência, não resisto e mexo com o Carlão:-

“- Velho, essa conversa sua me chamando de “Federal” pra cá, “Federal” pra lá está fazendo escola, sabe? ... Parece que já se espalhou por aí! ...”

“- Por que o senhor diz isso, “Seu” Roberto?...”

E aí eu lhe reproduzo a cena do sujeito próximo à padaria, todo empertigado, batendo-me continência e falando o tal de “- Positivo, operante! ...” .

Foi o quanto bastou para que o Carlão prorrompesse numa sonora gargalhada, engasgasse com os “chicletes” e tivesse que ser atendido às pressas lá na farmácia! ...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 06/03/11

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 06/03/2011
Reeditado em 10/03/2011
Código do texto: T2832427
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