SENTADO NUM SOFÁ DA SALA, CHOREI!

Luiz Celso de Matos

Insights, realmente, ocorrem de formas repentinas e inesperadas. Subitamente fazemos descobertas tão importantes que parece que nossa visão, antes dessa ocorrência, não tinha uma abrangência total. É como se olhássemos um quadro parcialmente, ou, deixássemos de apreciar algumas sutilezas que dantes não víamos; tal uma desfocalização.

Muitas das vezes minha severa e sempre a postos autocríticas, de forma impertinente, cobrava-me as minhas antipatias gratuitas por algumas pessoas. Ri muito quando talvez, tardiamente, descobri que essas criaturas eram espelhos que refletiam a minha face oculta, com semelhanças inequívocas.

Bastava ver alguém assumindo atitudes presunçosas, imediatamente sentia um descontentamento, uma raiva; na realidade o que ocorria era a visão daquele meu lado arrogante que algumas vezes gostava de dar umas voltas pela city.

Ainda criança, fui mandado para um colégio misto, de freiras, em regime de internato. Nesse educandário, além de rezar muito, era orientado a respeitar mais velhos, a não maltratar animais, a não depredar patrimônio alheio, e principalmente, evitar uma vida cheia de pecados, porque senão iria queimar no fogo do inferno. Confesso que por mais que esforçasse, vivia sentindo os tridentes do capeta no meu rabo, principalmente depois daqueles exercícios mentais e manuais pecaminosos que eram difíceis de confessar para o vigário. Vivia olhando para a palma da mão para ver se não estava nascendo cabelos. O pessoal daquele tempo jurava que nascia. Foi uma pena, pois fui adolescente de excelente performance. Teria faturado uma nota preta vendendo cabelo comprido para perucas, que fariam inveja para qualquer moçoila evangélica.

Nas férias, quando chegava na casa de meus pais, debilitado, magérrimo, recebia logo pela manhã, um ou dois ovos caipiras crus, para tomar. Horrível! O lado bom era a oferta do cálice de vinho do Porto para tirar o mau gosto da boca. Descia redondérrimo! Memoráveis tempos!

Ontem junto com esposa e filhos assisti pela oitava vez um programa na televisão que senti estar prendendo a atenção de todos, a despeito de vermos só inadequações, inutilidades, incentivos ao pernicioso. Num dos intervalos fui ao quarto e fechei a porta, olhei-me no espelho e perguntei a mim mesmo o que esperava do futuro de meus filhos adolescentes, vendo cenas que vexariam funcionárias de qualquer prostíbulo de segunda?

Será que depois desses meses de assistência a essa programação, minha filha, que tem vocação e, está estudando pedagogia, vai querer continuar a estudar para ser professora? Ou no ano que vem não será mais um dos milhares de moças ou rapazes que irão se candidatar a um programa que oferece milhões ao ganhador ou ganhadora para simplesmente se expor ao ridículo? Basta, para tal, ter um corpo sarado, ingerir bebidas alcoólicas, beijar muito, deitar com algum ou alguma concorrente do programa; insinuar, ou não, uma cena de sexo; falar e agir como imbecil, com postura de intelectual, e estará apto a se expor para milhares de pessoas, como eu, que gostam do sabor da maçã do pecado?

Voltei ao sofá e emocionado, conversei com meus filhos. Sem falsos moralismos, nos questionamos se uma programação como essa poderia trazer algum espécie de benefício futuro para qualquer jovem brasileiro. Chegamos ao consenso de que, deveria existir para os idealizadores de tal programa, um paredão onde eles recebessem de volta, baldes e baldes das matérias fecais que eles nos oferecem diariamente.

7/3/2011 10:30:01

Luiz Celso de Matos
Enviado por Luiz Celso de Matos em 07/03/2011
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