ESTAS MULHERES ANÔNIMAS...

Ela acorda sempre antes do sol e já começa a correria do dia. Vai à padaria, faz o café, apronta as crianças para a escola e despede o marido para o trabalho. Todos se foram, mas a rotina da casa não lhe dá tréguas. Varre, esfrega, espana, recolhe roupas e objetos espalhados pelo chão. A pia cheia de louça por lavar, as plantas por aguar, as aves e o cachorro no canil para serem tratados. Sem falar nas gaiolas penduradas na varanda, esperando pela limpeza.

Na parede da cozinha, o relógio. Hora do almoço, dali a pouco um batalhão faminto entrará porta adentro reclamando por comida quentinha, gostosa que "ela faz como ninguém". Não dá pra esperar, e as panelas no fogão brigam contra o tempo. Às 11 e meia, almoço servido. Mais uma vez, a pia cheia. Lavar tudo de novo! E tem que ser depressa porque no tanque os uniformes imundos já estão de molho. E os tênis manchados? E as meias suadas, e a calça que veio descosturada do lado? Meio da tarde, ela faz milagres. Uma escapadinha para pagar as contas vencidas, aproveitando para comprar o lanche e o que falta na casa. Na volta, recolhe a roupa no varal, passa a ferro e começa a jornada dos deveres de casa da escola.

É quase noite. O marido chega cansado, quer um banho relaxante. Cadê as toalhas limpas, meu Deus? E o jantar, demora? Ela corre daqui, acode dali, vai dando conta de tudo. Tenta sentar-se por um minuto diante da TV, mas lá do quarto vem um berro. Estão brigando, Jesus! Quem dá conta disso? Corre pra socorrer... Todos pro chuveiro! Enquanto se lavam, ela busca os pijamas, ajeita os lençóis. Ufa! Vão dormir! Ela beija cada um, abençoa, apaga a luz. Suspira aliviada. Enfim, a paz, está exausta. Mais um dia vencido!

Dia 8 de março, "Dia Internacional da Mulher", a professora propõe um trabalho na turma do 2º ano. As crianças vão falar sobre a importância da mulher trabalhadora na sociedade. Cada um vai falando de sua mãe: operárias, vendedoras, professoras, cabeleireiras, secretárias, manicures e toda uma infinidade de profissões...Lá no cantinho da sala está um dos filhos "dela". Silencioso, meio constrangido, ele não se manifesta. A professora resolve intervir. Conhece bem a brava rotina de vida que a mãe do garoto leva.

__ E você, Francisco, conta pra gente, o que faz a sua mãe?

Pego de surpresa, ele titubeia, ensaia, engasga e, por fim, declara:

__ Minha mãe? Ah, ela não trabalha, não faz nada...