Ronaldo sai de campo

RONALDO SAI DE CAMPO

(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 16.02.11)

Na realidade, há um bom tempo Ronaldo Nazário, o Fenômeno, já andava mais fora do que dentro de campo. E muitas das histórias e notícias sobre ele que mais repercutiram aconteceram fora dos gramados. Na segunda-feira ele anunciou sua retirada. Aposenta-se aos 34 anos de idade, depois de haver trabalhado entre 17 e 18 anos. Pouca idade (hoje, um jogador de futebol costuma ter "vida útil" um pouco maior) e pouco tempo de trabalho. Claro que ele continuará ganhando dinheiro associando sua imagem aos mais diversos produtos e serviços.

Na entrevista coletiva ele contou que duas lesões graves que sofreu tiraram-no dos jogos por quase quatro anos - tempo em que andou, pois, "encostado". Confessou-se também muito impressionado com seu espírito de sacrifício e dedicação, atuando muitas vezes com dores insuportáveis apenas por respeito aos milhões de torcedores seus fãs que queriam muito vê-lo em campo. No capítulo dos agradecimentos e lamentações, enalteceu mais o Corinthians do que a Seleção brasileira, lastimou mais a eliminação da equipe paulista outro dia, na pré-Libertadores frente ao Tolima da Colômbia, do que a misteriosa derrota do selecionado nacional para a França na final da Copa do Mundo de 1998 - lá na mesma França.

Não esqueceu de exaltar seus patrocinadores pessoais, especialmente os que apostaram em seu inegável talento desde os 17 anos de idade: duas multinacionais, uma brasileira de cervejas e uma americana de material esportivo. Aliás, ostentava no peito, frente às câmeras, uma vistosa marca desta última. A mesma marca, por sinal, que patrocinou a Seleção no mundial da França. Mas a história do dia daquela final ele continua devendo a todos nós: com a suposta convulsão que sofreu e com o time de zumbis desnorteados em campo. Dessa mancha Ronaldo, apesar do mérito de ter sido um Fenômeno, só se livra se abrir o jogo completamente.

Vocês debocharam de mim, riram de mim, fizeram mil piadas por causa do meu aspecto físico, ele declarou triunfante, mas não sabiam que estou com hipotireoidismo há quatro anos, doença que faz com que o sujeito engorde e cujo tratamento implica em resultados positivos nos exames antidoping. O médico do Corinthians e especialistas no assunto desmentem tanto a doença quanto o efeito dopante do seu controle.

Parece que o Nazário prefere manchar a sua biografia até na hora de sair de campo.

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Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados, diversos outros ainda inéditos, participação em 32 coletâneas e 44 premiações em concursos literários no Brasil e no exterior.

==> Em breve, "Se Te Castigo É Só Porque Eu Te Amo" (teatro) chegará às prateleiras das livrarias.