Preciso escrever que não sei

Hoje as músicas me embalam mais que antigamente, me emocionam, me tocam. Minha alma é puramente sonora, meus ouvidos são portas

sem gamelas, meu colchão é uma rede de balanço.

Tenho tocado alguns instrumentos que, com tamanha força e vontade, tem ensurdecido milhões. São ouvidos, destes, destreinados,

insensíveis, que acumulam ceras e não formam poças, não alimentam o embate, não produzem orgasmos. Tenho tentado me despoluir,

me refazer, me arquitetar. Tenho experimentado, mesmo que amargos, líquidos gasosos. Não tenho re-lido, tenho procurado.

Saí do círculo! Preciso escrever que não sei, que os traçados das linhas tortuosas que transcrevo são todas nuas, desvirginadas,

esburacadas. Afinal, são apenas escritos.

Quanto às músicas, espero que sejam tocadas, aprendidas, afinadas. Que produzam sons! Meus ouvidos necessitam. Minha alma clama.