Inevitabilidade

Ele andava pelo aterro sentindo o vento no rosto e o sol na pele. Viu um banco virado para o mar e resolveu sentar. Ficou olhando para o horizonte, contemplando a grandeza da criação e deixando sua mente vagar sem destino. Não sabia mais o que queria da vida. Não que tenha conseguido algo de relevante, só não sabia mais que caminho seguir ou o que queria fazer.

Seus pensamentos eram um turbilhão de coisas que não se encaixavam. Boas e ruins. Idéias e lembranças. Sonhos e devaneios. Promessas... novas e velhas... quebradas ou ainda não cumpridas. Pessoas... muitas pessoas. Algumas, ama, outras, amam-no e muitas são indiferentes. Porém, o que mais o incomodava era que ele não acreditava e nem confiava em mais alguém.

A grande verdade era: sentia-se só. Família, amigos, mulheres havia, mas ainda assim a solidão era uma constante. Uma sensação de impotência, de tempo perdido e de uma completa falta de motivação. Afinal, lutava tanto para quê? A correnteza da vida levara-o a que lugar? De que adiantaram estudos, trabalhos, romances, farras e abnegações? Nada fazia sentido. Nunca havia feito.

No entanto, seguia vivendo. Não. Não uma sobrevida. Continua permitindo-se sonhar e continua tentando lutar. Só não sabe mais o porquê. Ele vive, mas apenas por viver. Não há paixão em coisa alguma ou por alguém. Quando surge um pingo de esperança, algo que pareça paixão, as decepções logo em seguida a despedaçam. E mais uma vez ele pergunta o motivo de ainda insistir.

Olhando para o mar, para as gaivotas e para o infinito, percebeu que vivia uma fase niilista. A vida, para ele, não tinha o menor sentido. Nela, sem dúvida, o caos e o absurdo reinavam absolutos. Assim, a única coisa que poderia fazer era esperar a visita da morte ou, então, provocá-la. Mas para quê? Não é a morte inevitável? A única certeza que se tem na existência? Se a vida não fazia sentido, tampouco antecipar o seu irremediável fim.

Chegou então à conclusão que nascer e perecer não tinham a menor importância: todo o problema ficava na linha que ligava um ponto ao outro. Riu. Era um pensamento óbvio. Ficou com inveja dos hedonistas. Não dos egoístas ou dos que buscam o prazer material, mas daqueles que crêem que a busca do prazer, independentemente da sua origem, e a diminuição da dor são o caminho a ser seguido. Só queria saber como fazer isso.

Ele levantou e começou a caminhar de novo. Sentia-se mais leve, mas não sabia o motivo. Também não se importava. Havia deixado sua mente vagar e percorrer as trilhas da sua própria imensidão. Só sabia que nada sabia. Provavelmente, jamais saberia. Seguirá sonhando, lutando, aprendendo, pensando, refletindo e, sem dúvida, vivendo. Por mais estranho que isso lhe pareça.

Fabrício Mohaupt
Enviado por Fabrício Mohaupt em 13/03/2011
Código do texto: T2844606
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