VISÕES

VISÕES(Crônica)

Rogério Grillo

A história que se segue foi ouvida de um velho habitante de Salvador, ao ser perguntado sobre o efeito das mudanças que a cidade sofrera no seu tempo.

“- Pelo que me lembro, está tudo diferente. Antes ainda do Dique do Tororó ser aterrado, por ocasião das Olimpíadas de 2056, a população já deixara de freqüentar o antigo estádio (rebatizado de “ESTÁDIO LUIZ EDUARDO MAGALHÃES”) por causa do mau cheiro que provinha dos banheiros mal cuidados da estação do metrô, passando a freqüentar o ESTÁDIO DA ASSEMBLÉIA DE DEUS, maior, mais moderno e bem-cuidado, construído no aterro da praia de Aleluia. De qualquer jeito, como o antigo estádio foi demolido para a construção de outro maior naquela área, boa parte da área do dique virou um grande estacionamento de seis andares. Lembro da paisagem que se avistava do último andar. O bairro de Itaparica (assim chamado depois que uma segunda ponte Salvador/Ilha foi construída, ficando uma pra ir e a outra pra voltar), se impunha com seus arranha-céus à beira-mar, e o seu aeroporto internacional, construído na área da velha estação do Ferry-boat Sem dúvida, a nova fábrica da BOEING acelerou esse processo de super-urbanização da ilha

Eu falei em metrô ? sim, porque, não poderia esquecer a emoção que senti quando da inauguração da última estação, que ligava o bairro da Ribeira a Itapuã. Depois de 40 anos e muitos prefeitos, Salvador finalmente tinha a sua rede de metrô completa, já ultrapassada, mas completa. Demorou alguns anos até o povo se acostumar com a nova moda. Muitos relutaram em abandonar o hábito de pegar o transporte náutico urbano que desde 2018 havia se tornado realidade, com pequenas docas construídas na praia do Porto da Barra, na Pituba, Comércio, Ribeira e Itapuã. Mas, como dizia aquele antigo compositor do século passado, -“o tempo não pára”, e aos poucos toda a frota de ônibus, que a essa altura já sofrera bastante com os protestos dos ambientalistas radicais que exigiam a conversão dos motores para modelos compactos, movidos a eletricidade, foi sendo retirada para sempre de circulação, o que melhorou o já insuportável e super saturado trânsito da cidade.

Agora, sem dúvida, pra uma pessoa como eu, amante dos esportes, o evento que mais marcou a década de 10 foi a copa do mundo de 2022 A cidade toda parou para o torneio. O Brasil, único Deca-campeão do mundo, era mais uma vez o favorito, mas daquela vez havia um perigoso adversário: a seleção do País Basco, separado da Espanha desde 2015, absorvera os melhores jogadores daquele país. O nosso técnico, Matheus Gama (Filho de Bebeto, campeão em 1994), montou um super-time que tinha como estrela Ronald Nazário, o filho de Ronaldinho. Após a final, levei três dias para chegar em casa.

E assim ia a vida, apesar da migração em massa da população baiana para São Paulo, por conta da transferência temporária da ONU para o Brasil, nosso estado crescia. Eram tempos bons, onde a palavra “futuro” estava 100% presente, e os empecilhos naturais para as grandes mudanças eram tratados com respeito à população e à democracia. Não é como agora, em 2080, que esse governo estadual quer nos fazer engolir a mudança de nossa capital para Feira de Santana....onde vamos parar ?”

Rogério Grillo
Enviado por Rogério Grillo em 07/11/2006
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