O PODER DAS ÁGUAS!

“Oh... Meu lar doce lar.

Se eu me perco é em você que eu me encontro,

Se eu me sinto fraco é em você que eu me fortaleço,

Porque você sempre estará lá pra me fazer sentir bem”

(http://www.luso-poemas.net/)

Algumas vezes, após o término das aulas onde leciono, costumo prosear com as servidoras que trabalham na farmácia. Nessa semana, o assunto em pauta foi o TSUNAMI que arrasou o norte do Japão. Todos nós ficamos horrorizados com a força das águas. Sonhos e esperanças foram embora com aquelas terríveis ondas marítimas. Tudo isso levou-nos ali reunidos a pensar e repensar nossas vidas. De repente, uma das moças que trabalham no setor começou a falar sobre a sua terra natal e como a ÁGUA modificou o destino de sua família. Certamente motivada pela tragédia ocorrida do outro lado do planeta.

O fato narrado por ela desenvolveu-se em Nova ponte, um município de Minas gerais. Antigamente, Lucinha (a protagonista da história) e sua família viviam na zona rural dessa cidade, nas margens do rio “Quebra-anzol”. A água doce e calma do rio era a fonte vital para aquela região. Dele dependiam GENTE, árvores, pássaros, flores, e a bicharada. Os familiares dessa moça possuíam uma casinha com um lindo pomar no fundo e também uma pequena lavoura de subsistência. No quintal existia uma bica da água e um mujolo que morosamente triturava os grãos de milho para fazer fubá.

No geral, para as pessoas do lugar, havia muito trabalho e pouco descanso. Aos sábados, o som da sanfona ressoava no salão comunitário daquela localidade. Os alegres moradores celebravam dançando, mais uma semana de trabalho. Do lado de fora, a lua branca majestosa refletia nas águas calmas do ribeirão, dando seu consentimento silencioso para aqueles momentos de prazer...!.

Entretanto, em meados de 1993/1994 a antiga cidade foi inundada, sendo edificada novamente na parte mais alta da região, ao lado de onde é hoje a represa da usina hidrelétrica de Nova Ponte. Todas aquelas pessoas que viviam modestamente, mas felizes de uma hora para outra tiveram que abandonar seus lares. Para cada família foi concedido uma nova casa. O valor sentimental do lar foi totalmente ignorado. As árvores, pássaros, bichos foram quase todos eliminados pela INUNDAÇÃO, tudo isso em nome de um pretenso “progresso”. A tristeza dos ribeirinhos foi de dar pena. Muitos deles, só deixaram suas casas, quando a água começou a subir no patamar de suas portas.

Lucinha e sua família ficaram encima da montanha assistindo a água encobrir sua morada. Mesmo depois que o telhado desapareceu, ainda, eles ficaram no local, até que a Moreira, uma árvore enorme do quintal fosse totalmente coberta. Posteriormente, em silêncio retiraram-se todos. Volta e meia, quando a água da represa baixava dava para ver os galhos da Moreira, que teimava em permanecer viva. Contudo, com o tempo acabou morrendo.

Um dia abriram as comportas, o grande lago esvaziou-se. Lucinha e os familiares imediatamente foram ver o que restou de sua antiga casa. No local, ainda permaneceram as paredes e objetos diversos esquecidos pelo chão. Parecia que todos aqueles apetrechos transmitiam àquela família um apelo mudo por socorro, que infelizmente não podia ser atendido.

Aquela comunidade, nunca mais foi a mesma. Muitos tiveram abreviadas suas existências porque não conseguiram se adaptar a nova vida. As casas, agora iluminadas pela luz elétrica, perderam o brilho do lar. As festas não são mais tão alegres. Somente o solo triste da sanfona é que relembra a alegria de um tempo que não volta mais...

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 16/03/2011
Reeditado em 24/08/2011
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