A CAMINHO DA SERVIDÃO!...


Crônica De: Silvino Potêncio
Com a devida vênia ao nosso Dilecto Amigo Jornalista Artur Teixeira temos a honra de transcrever aqui uma das suas ultimas crônicas alusivas ao estado de alma que vai lá pela "Santa Terrinha" nos dias de hoje!

Ponta Delgada, 14 de Março de 2011

A caminho da servidão…
Já percebemos que a Crise Financeira, com o seu desdobramento económico e social, veio para ficar. Percebemos também que esta é instrumental e serve obviamente os interesses de comanda a Globalização Económica. Só não percebemos, ou se calhar até percebemos, porque é que a nossa Classe Dirigente insiste no engano de que é possível “acalmar os mercados” com novas medidas de austeridade. Na verdade o que qualquer agiota deseja, não é a quitação do empréstimo, mas os juros que cobra, sobretudo se forem extorsivos e com possibilidade de alteração a qualquer momento, em ordem à satisfação da sua ganância. Esse é o seu negócio… Não sabemos porém é se o engodo do Crédito Crescente não terá a ver com algo ainda mais sinistro…
Portugal, embora seja um pequeno país, tem património material e imaterial com interesse estratégico. Sempre teve e a sua História o demonstra. Nem sempre teve porém uma elite à altura dos seus pergaminhos, como infelizmente actualmente acontece. A sua extensa ZEE (Zona Económica Exclusiva), uma das maiores do Mundo, apesar de parcialmente comprometida no que toca às pescas, em virtude da inabilidade dos nossos representantes aquando da assinatura dos Tratados de Maaestricht e de Lisboa, tem recursos que estão por avaliar e não serão poucos. Provavelmente tem Petróleo e concerteza outros minerais de importância capital. Por outro lado, a nossa posição Geoestratégica, de grande importância logística em relação à Europa Ocidental e de outras paragens, noutros Continentes, não é de menosprezar. Veja-se que a China Comunista ao comprar recentemente parte da nossa dívida, manifestou interesse nessa área. Não estarão os Credores Internacionais de olho neste património?
O quarto pacote de medidas de austeridade anunciado, depois da “consulta” a Bruxelas, é a demonstração cabal do desnorte do actual Governo. José Sócrates e o seu Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, que é um homem de mão dos chamados Mercados Internacionais, com estatuto profissional de CEO (Chief Executive Officer), ao anunciarem mais sacrifícios, parecem sofrer de uma esquizofrenia digna de tratamento psiquiátrico… Mais ainda, quando praticamente na véspera o Presidente da República advertiu que “Há limites para os sacrifícios”. Talvez por isso tenha cometido a indelicadeza de não o informar previamente do que iria “propor” em sede internacional. Este gesto tem obviamente grave significado político. Para nós significa que os nossos governantes estão tão obcecados com os “mercados” que nem passam cartão ao representante máximo do povo português, independentemente de gostarmos ou não de Cavaco Silva; tenhamos ou não votado nele. Revela também o quanto estão comprometidos com as políticas ecoliberais ditadas pelo Sistema Financeiro Internacional. Curioso, ou não, foi a reacção imediata do BCE (Banco Central Europeu) e da Comissão Europeia que consideraram
os novos sacrifícios anunciados como um indicativo de que Portugal está no bom caminho... Pudera! O 1º. Ministro mais não faz que cumprir obedientemente os desígnios da Oligarquia Financeira para quem trabalha desde que pôs o pé no Poder… Lembram-sedo “Porreiro, pá”, após a aprovação do Tratado de Lisboa? Em abono da verdade, ele não é único… Vasconcelos não faltam, infelizmente…
Todas as medidas de austeridade que até ao momento têm sido exigidas ao povo e implementadas em Portugal, semelhantes de resto às de outras paragens, até mesmo fora da União Europeia, o que indicia uma acção planeada à escala Global, visam um único objectivo: proteger a moeda, no nosso caso, o Euro. Ao reduzirem-se os salários e ao aumentarem-se os impostos, está-se, nem mais nem menos, que a retirar dinheiro dos bolsos dos cidadãos e a encher a “burra” dos especuladores financeiros, com a vantagem de não ser necessário emitir papel-moeda para atender à demanda de meios fiduciários para a especulação financeira. Com este expediente, os manipuladores do mercado financeiro não apenas conseguem evitar a desvalorização do seu património mobiliário, expresso em Euros, como até o valorizam, uma vez que o dinheiro se torna mais caro, graças à escassez de moeda, convenientemente administrada pelo BCE.
O instrumento principal desta Crise é obviamente a própria moeda, uma moeda artificialmente valorizada, que raramente vemos referida nas inúmeras análises dos Economistas de “plantão”, para usar uma expressão tipicamente brasileira. O Euro, além de alienígena, é uma moeda espúria, ou seja, pouco mais é que um falso dinheiro. Falso, porque não tem lastro em metais nobres, não passando de “papel pintado”, como costuma dizer o nosso amigo Armindo Abreu, Economista brasileiro. Trata-se na verdade de uma cédula de “dívida permanente”, criada para empobrecer os países que desistiram de cunhar moeda própria, como também desistiram do seu Capital Fixo, como foi o caso português. Se um país tem uma Balança Comercial deficitária, tal provoca uma dependência ingente de financiamento externo. Eis o truque do Sistema Oligárquico Financeiro que os nossos sucessivos governos têm directa e indirectamente defendido. Claro que para os países ricos da Europa, nomeadamente a Alemanha e França, que não desmantelaram o seu Capital Fixo, como nós, tal moeda é uma vantagem. Compram mais barato, por exemplo, as matérias-primas necessárias à sua indústria. Daí também poderem exportar bens e produtos de qualidade a preços competitivos, mesmo para fora da União Europeia.
A moeda “abastardou-se” ainda mais, quando o dinheiro passou a ter uma escrituração virtual, ou seja, passou a estar ao alcance de um clique informático… Tal expediente permite aos banqueiros criar dinheiro do nada e multiplicá-lo por triliões… sem recurso à emissão de papel- moeda. Já o faziam com a chamada Reserva Fraccionada, mas agora, é muito mais fácil e dá muito mais… Basta esperar sentado... Potentes computadores instalados nos grandes centros do Capital Financeiro trabalham incessantemente, ao segundo, contabilizando os ganhos das aplicações especulativas à escala Global. Nenhum desse dinheiro tem possibilidade de cobertura em papel-moeda, ou seja, todo o dinheiro em circulação não chegaria se todos os especuladores quisessem resgatar ao mesmo tempo a sua fortuna virtual. Esta é aliás a causa fundamental das crises financeiras.
A necessidade de Financiamento da Economia de alguns países, como Portugal, tornou-se pois intencional e drástica. Tornou-se porque os ditos “mercados” apenas precisam que o tempo corra e correndo, corre sempre a seu favor… O problema “deles” não está tanto na insolvência dos Estados, estes sempre terão algo para dar em troca, mas em garantir o pagamento dos juros com moeda circulante, ou seja, retirada ao Trabalho e à poupança, que são a única moeda fiável sem necessidade de recorrer à emissão de papel-moeda que naturalmente desvalorizaria o seu património mobiliário. Como então pensar que os agiotas estejam nervosos e necessitem de calmantes feitos dos sacrifícios dos mais vulneráveis da sociedade? Mais, como, se os Governos estão sempre prontos a lhes satisfazer os caprichos? Veja-se como os Estados correram em socorro dos bancos quando estes ficaram à mercê de uma falência Global, devido à especulação excessiva com derivados de elevado risco (subprimes). E fizeram-no evocando a necessidade de restabelecer a “confiança dos mercados”. Sempre uns coitadinhos… Daí que a evocação abstracta dos mercados constitua um argumento falacioso que apenas se destina a escamotear o objectivo escondido da Oligarquia Financeira Mundial, que é apropriar-se da riqueza dos povos, sem que estes se apercebam. Daí a linguagem hermética da maioria dos Economistas e o discurso do engano dos Políticos comprometidos com a vilania do Capital Financeiro Especulativo.

O garrote do défice orçamental também persegue o mesmo objectivo, ou seja, o de garantir uma moeda artificialmente forte. Tem contudo uma consequência sub-reptícia. Inibe os Estados Membros mais fracos de aírem da cepa torta… A sua aplicação é cega… Estaria correcta se as Economias dos mesmos fossem equivalentes. Não são. E por este caminho, nunca o serão… Quem era forte antes da entrada do Euro, tende a ficar cada vez mais forte, e a inversa é também verdadeira. Na conomia não existe o princípio dos vasos comunicantes… Engano daqueles que julgam que alguém vai ceder um bocado do seu naco, por maior que seja, mesmo que este seja resultado de explorar os mais fracos… Mesmo quando manifesta “generosidade”, esta é sempre feita no seu interesse. Foi o que se passou com os Fundos Estruturais e de Coesão. Apenasserviram para eliminar o nosso Capital Fixo e abrir mercado aos bens e produtos da Europa Desenvolvida. Tolos fomos nós que nos deixámos ir na conversa… e trocamos Meios de Produção (a cana de pesca) por uns míseros milhões de Euros para comprar o peixe deles… Aliás isto é demonstrativo do quanto fomos enganados com as promessas que certos político e economistas nacionais fizeram na hora da adesão à CEE. Eram só boas promessas… Na verdade só um dos objectivos do Projecto Europeu tem persistentemente implementado: a coesão dos grandes interesses económicos.
Quanto à Coesão Social, essa foi mandada às urtigas… Se calhar isso nunca esteve no espírito dos fundadores da CEE (Comunidade Económica Europeia).
Não só estamos a encher a “burra” dos especuladores, como estamos a financiar em boa parte a Economia da Alemanha e da França. A Divida Soberana também existe e se acumula porque é necessário pagar importações de bens e produtos com origem naqueles países, afinal grandes beneficiários da desconstrução da nossa Economia. Cerca de 80% do que comemos vem dessa Europa rica que parece não perceber que somos nós que estamos a sustentar em parte o funcionamento da sua Agricultura e Indústria, onde laboram muitos portugueses para quem a Pátria tem sido madrasta e pelo caminho que eguimos tenderá a sê-lo… Até devemos equipamentos militares que ao que parece, na opinião do Pentágono, não servem para nada… como é o caso dos submarinos alemães, que vão nos custar os “olhos da cara”. Durão Barroso e Paulo Portas, que promoveram a sua compra, deveriam no mínimo ser presos... Mas como, se as decisões políticas em Democracia apenas são julgadas em actos eleitorais? Nada lhes acontecerá. O caso está em tribunal, mas por causa de pagamento de luvas a intervenientes de 2º. Escalão. Temos no entanto dúvidas, a exemplos de outros casos, que alguma vez se faça verdadeira justiça.

Artur Rosa Teixeira

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Silvino Potêncio
O Home de Caravelas - Mirandela
Emigrante Transmontano em Natal/Brasil
www.silvinopotencio.net
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 18/03/2011
Reeditado em 17/06/2016
Código do texto: T2855578
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