Chá de bebê
 
No mês passado, estive num chá de bebê, a alegria era visível no rosto da futura mãe, das avós e dos amigos. Esperando ansiosamente a chegada do menino para o inicio de abril. Saí de lá muito contente ao ver uma comemoração tão simples e tão carinhosa para com a mãe e o bebê.
Quando ela recebeu a noticia de que estava grávida do primeiro filho, foi uma alegria enorme. O casal estava muito feliz e os avós de primeira viagem nem se fala!
Os meses foram passando, os exames demonstravam que a criança estava bem.
Todos traçavam mil planos para ele, imaginavam com quem seria parecido, que nome lhe dariam, foi uma dificuldade chegarem ao consenso...
Arrumaram o berço, o enxoval, não esquecendo nenhum detalhe, até brinquedos, o quarto ficou um recanto lindo feito com muito carinho.
Chegou finalmente o dia do nascimento, do bebê tão ansiosamente esperado, alguns dias  adiantado é verdade.
A família toda compareceu, inclusive eu, estávamos ansiosos para vê-lo e lhe dar as boas vindas.
Ele veio ao mundo, por Cesariana às seis horas da manhã, quando o dia estava amanhecendo.
A mãe estava dormindo ao sair da sala de parto o marido carinhoso a beijou e a acompanhou até o quarto.
A enfermeira levou consigo a criança sem que pudéssemos vê-la.
O médico demorou a vir conversar com o pai e conosco...
Quando se aproximou parecia preocupado...
Ficamos na expectativa...
Com certo esforço finalmente deu uma noticia que nos abalou.
-O parto foi tranqüilo, a paciente está bem. O pediatra que examinou a criança está preocupado...
O pai muito pálido quase sem voz perguntou
-Ele está bem doutor?
-Sim está e é fisicamente perfeito.
-Graças a Deus!
-Como eu disse o pediatra está preocupado. Ele quer falar com senhor, está esperando na sala 2, no fim deste corredor. Com licença, vou ver os pacientes.
Os avós emudeceram, eu fiquei gelada, o pai saiu cambaleando por aquele corredor que parecia não ter fim...
Entrou na sala 2.
Depois de alguns minutos saiu lívido ...

 Repetiu com voz embargada as palavras do médico
- O pediatra disse que ele vai ter que fazer alguns exames, porque está bem abaixo do peso e não chorou ao nascer, não conseguiu respirar sozinho, estava roxinho, foi necessário lhe dar oxigênio, ele disse que por hora não pode afirmar nada, vai ter que fazer alguns exames daqui uns dias ou um mês, os exames que foram feitos durante a gravidez e as feições do bebê afastam definitivamente a Síndrome de Down, não é problema genético. Agora ele está na incubadora e está bem, se eu quiser ele faz o acompanhamento do bebê. Vamos rezar para que não seja nada, o médico disse que quis apenas nos prevenir se por acaso houver algum dificuldade no futuro. Vamos poder vê-lo a noite ou amanhã pela manhã.
Claro que todos tentamos fazer do problema apenas uma possibilidade remota, na ânsia de amenizar seu sofrimento, dizendo que felizmente não era nada grave, etc etc.
O pai um pouco mais conformado pedia nosso auxilio para lhe dar forças e sugestões de como contar o ocorrido para a esposa.
Fomos unânimes, sugerimos que não dissesse nada por enquanto, deveria esperar ela se refazer do parto.Como nada era definitivo, não havia necessidade de preocupá-la desde já.
Ele agradeceu nossa presença e se despediu.
Os avó se retiraram entristecidos.
Eu fiquei parada observando ele se afastar, se dirigindo ao quarto da esposa, cabisbaixo, ombros caídos, parecia carregar o mundo nas costas.
Porém ao abrir a porta do quarto deu um sorriso e entrou...
Saí chorando da maternidade e rezando, para que Deus poupasse aquele bebê de algum mal, desse força à aquele casal.
Só a dúvida, a possibilidade de alguma anomalia do filho já havia levado mais da metade da nossa alegria.
Imagino o pai e a mãe com uma espada sobre a cabeça esperando dia a pós dia, hora após hora o desenvolvimento dele, sempre em sobressalto.
Mas conhecendo ambos como conheço posso afirmar que aconteça o que acontecer nada mudará seus sentimentos em relação a ele.
Com problemas ou não, crescerá rodeado de carinho.
Teve sorte em nascer num lar onde o amor domina de forma absoluta e onde a tristeza e mágoa não encontra guarida.
Agora só nos resta esperar, e rezar pelos três.
 
 
M.H.P.M.