Mestra natureza

A poesia não conhece limites; é impressionante o quanto uma poesia bem escrita nos toca em vários sentidos. No poema “A Educação pela Pedra”, por exemplo, João Cabral de Melo Neto nos prova como a pedra nos ensina dicção, moral, poética, economia – e mesmo a pedra do sertão, que não sabe lecionar, “entranha a alma”...

Acabamos concordando que podemos tirar lições de todas as coisas, desde que estejamos decididos a aprender. E a natureza, inequivocamente sábia, nos dá oportunidades diárias de aprendizado constante. Como a insistência das ondas, que vem e vão apagando resquícios de passagens anteriores; ou a humildade das folhas de outono, que se rendem à passagem do tempo e simplesmente se deixam cair quando sua função termina.

Aquele broto que teima em rasgar o concreto, tornando o cinza pontualmente verde contra todas as probabilidades; o rio que corre sempre para a frente, contornando com indiferença as pedras que tentam bloquear seu fluxo; o vento que sopra para todos sem distinção, a duna de areia que adapta sua forma ao sabor da brisa ou a montanha secular e imóvel que apenas observa, sem julgar, a humanidade.

Precisamos, porém, aprender o quanto antes que a água volta sempre ao seu curso. Que o ar e as matas não são nossa propriedade. Que não podemos prescindir de nenhum ser vivo. Que somos parte da natureza, não donos dela. E que estamos aqui de passagem, uma breve passagem que pode deixar marcas que nos encham de orgulho ou vergonha, dependendo de como pisamos sobre este solo. Mas, mais que tudo: este solo é sagrado. Guarda em suas entranhas as pegadas e os ossos de nossos antepassados. Se quisermos que nossos filhos e netos também o façam, precisamos aprender a aprender - e entender as lições das pedras.

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Este texto faz parte do exercício criativo "A educação pela pedra"

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