Refazer, reconstruir sempre

REFAZER, RECONSTRUIR SEMPRE

(crônica publicada na "Revista do Avaí" nº 11, março de 2011)

Certa ocasião (era fevereiro de 2008), publiquei em minha coluna das quartas-feiras no "Diário Catarinense" uma crônica falando das virtudes do Avaí de então: uma equipe que "atua afinadíssima, com padrão de jogo, alternativas de ataque, muita técnica, muita garra e muito entusiasmo". O time era disparado o melhor do campeonato catarinense, e só não levantou a taça por esses azares que dão graça ao futebol.

Acontece que, de forma inesperada e improvável, havíamos perdido em casa, no domingo, exatamente para o nosso rival maior, aquele que mora do outro lado das pontes. Foi um 3 a 0 que levou muita gente ao desânimo, temendo já a repetição do que vinha ocorrendo há anos: a falta de conquistas e títulos.

Naquela quarta-feira o jogo seria em Tubarão. Um bom resultado era fundamental para reerguer o moral de jogadores e torcedores. De manhã, o primeiro telefonema que recebi veio da Nesi Furlani, Diretora Social do Avaí: gostara muito da crônica e me dizia que já ligara para Gravatal, onde o time estava concentrado, pedindo ao técnico Sergio Ramirez que desse uma espiada no texto. À noite, na entrevista coletiva após uma retumbante vitória, Ramirez falou sobre a crônica, citando o nome do autor, que ele queria conhecer pessoalmente.

Meses depois, com a tão almejada classificação à Série A já bem visível no horizonte das possibilidades concretas, encontro em uma praça de alimentação da cidade os zagueiros Cássio e Rafael. Falamos da importância do acesso à primeira divisão do futebol brasileiro: importância para o clube, para os próprios jogadores e, especialmente, para o dedicado, apaixonado e sofrido povo que torce pelo Avaí. Antes, porém, me apresentei, e um deles lembrou (nunca se saberá ao certo se o Cássio ou o Rafael, gêmeos univitelinos, idênticos em tudo, inclusive no vistoso futebol):

- Claro, aquela crônica sobre o riacho rápido e impetuoso que o "professor" leu para nós antes do jogo!

Ele se referia à citação feita ao "torrente Avahý", o arroio em cujas margens se deu a batalha da Guerra do Paraguai que leva o seu nome, a qual batizou o clube de futebol fundado em 1923.

Pois essa surpreendente "corrente de água muito rápida e impetuosa" tem que ser constantemente refeita e reconstruída: após cada campeonato, após cada insucesso e, mesmo, após cada vitória. Como se faz agora, com o retorno do técnico Silas. Para manter "muita técnica, muita garra e muito entusiasmo". E assegurar muitas conquistas. Sempre.

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Amilcar Neves é avaiano e escritor de crônicas, contos e romances, com oito livros publicados.