Vibrações [DEUS, choros e chorões]


Demorei a conciliar o sono na noite passada, ainda extasiado pelos belos momentos que um grupo de músicos amigos proporcionaram ao pequeno e entusiástico público, numa roda de choro.
Ontem, a face brejeira e descontraída deste carioquíssimo estilo musical se fez presente e resplandeceu com todas as pompas. As frases humorísticas do David (sete cordas) a cada apresentação, tiravam o fôlego da Gigi (Flauta) e fazia brotar o sorriso acolhedor do Toninho Branco (bandolim e cavaquinho) e tome choro.
Naquele papo de cordas entrecortado do solo de flauta e a ginga malandra do pandeiro, os olhos da platéia de ouvidos atentos brilhavam, deixando brotar a alegria e o entusiasmo na explosão do aplauso.
Nossas almas estavam ali, desnudas, a banhar-se no bálsamo celestial do choro numa interação mágica e mística da arte, diante deste representante mor da música popular brasileira. Acordes dissonantes e improvisos moleques faziam do Mandacaru, recanto simples e acolhedor, um pedacinho do céu.
O aspecto sentimental com ar de melancolia, que daria ênfase ao nome do novo estilo musical surgido por volta de 1870, se caracterizava pela improvisação, ganhando espaço nos salões e festas da periferia carioca da época. Mais tarde encontramos o choro no eruditismo das composições do maestro Heitor Villa-lobos.
Naquela platéia num repente, vislumbrei entre nós: Chiquinha Gonzaga, Luperce Miranda, Zequinha de Abreu, Valdir Azevedo, Pixinguinha, dentre outros, quando os acordes melodiosos do cavaquinho de Toninho Branco iniciou a execução de Vibrações do saudoso Jacó do bandolim. Era o ápice. Deus também estava ali com todas as falanges unificando de vez o céu e a terra. Uma noite inesquecível pra todos nós.
Cosme Belizário
Enviado por Cosme Belizário em 10/11/2006
Reeditado em 10/11/2006
Código do texto: T287774