O PARADOXO: A BELEZA DA VIDA ESTÁ NA EXISTÊNCIA DA MORTE

O PARADOXO: A BELEZA DA VIDA ESTÁ NA EXISTÊNCIA DA MORTE

Colatina, 29 de março de 2011.

Que irônica é a vida... Já perdi as contas de quantas vezes ela me colocou face a face com a morte. Quando era adolescente aconteceu algumas vezes, por exemplo, quando aprendia a andar de bicicleta quase fui atropelado por um ônibus da viação Áquia Branca; ao atravessar a rua, por falta de consciência do perigo me atirei espontaneamente a um carro que passava... foi por pouco que não fui atropelado. Esses são exemplo de tantos outros que me ocorreram quando criança e como adulto também. Em especial, ontem aconteceu um fato em que a vida me colocou diante da morte novamente. Eu e um amigo vínhamos de uma reunião em vitória aonde fui acompanhá-lo apenas. De repente em um trecho da BR-101 surge uma carreta após o carro em que estávamos. Meu amigo mais que depressa pisou no acelerador para evitar que a carreta fizesse a ultrapassagem, algo imprudente e desnecessário. Dirigindo já a uma velocidade de mais de cem kilômetros por hora surge diante de nós uma curva bem acentuada. E como a preocupação com a carreta era demais, esqueceu de reduzir a velocidade para entrar nela. Resumindo: o carro quase capotou. Eu que estava cochilando, acordei assustado repentinamente quando vi meu amigo segurando o volante do carro que derrapava com muita força e o ouvi dizer as palavras suplicantes a Deus: “segura Deus, segura Deus”. Nesse mesmo sentido, eu dizia a ele, meio bêbado de sono e pouco consciente da situação, para dar uma força, pois mais nada havia que fazer: “cuidado, cuidado”. É!! Ninguém nessa hora quer morrer mesmo!! Quando passou o susto dissemos, Ufa!!! E depois de algum tempo demos boas gargalhadas.

A verdade é que todos nós brincamos o tempo todo com aquilo que mais tememos: “Ah!! Ninguém vai ficar para semente mesmo”; “Quem dera que Deus me levasse agora”; “Quero é ir pro céu... lá não terei que trabalhar...”. Embora façamos essas brincadeiras, quando chega a hora “h” até o maior dos ateus clama por Deus para não ir. Só para se ter mais uma ideia de como temos tanto medo da morte, ela se apresenta para nós como uma palavra pesada e muito carregada de negatividade. Para sanar isso e aplacar o incômodo de ter que ouvi-la mais uma vez, falamos utilizando eufemismos: “fulamo passou desta para melhor”. Ou por metáforas: “Fulano bateu as botas”.

Mas vida é assim mesmo. Ela coloca-nos a espreita morte o tempo todo. Quem nunca ao atravessar uma rua não se esqueceu de olhar para os lados e foi surpreendido com a aproximação de um carro e, após escapar desse mal súbito, não pensou: “Ufa!! Quase... Nesses momentos nossa vida é posta por um fio. Contudo, não se pensa profundamente sobre isso, porque é a morte... Fugimos dela o mais que podemos, mas ela nos persegue. Procuramos esquecê-la trabalhando, nos realizando para compensar o curto tempo de nossa trajetória. E olha que pode ser curta mesmo! Todavia, tem também aqueles que ao contrário disso, procuram imortalizar-se por meio de uma obra ou de um grande feito assim como Sócrates quando disse diante a sentença de morte inevitável, por negar a rejeição de seus princípios: “Deixo o mundo, mas entro na eternidade”, realmente o carrasco de Sócrates nunca foi lembrado na história, porém ele sim, lembrado pós-morte para todo sempre... É quem sabe eu também não esteja querendo me imortalizar escrevendo essa crônica... Quando penso nessas duas possibilidade de realização não sei se têm sentido. Na verdade acho que nós é que procuramos atribuir sentido a nossa existência fazendo isso. Mas tudo isso é nada mais nada menos do quê tapar o sol com uma peneira furada, porque a morte anda conosco, come conosco, dorme conosco, embora tentemos esquecê-la. Ela está a espreita. Porque fugir de uma realidade tão inevitável? Porque não encará-la com naturalidade, a final de contas é a vida! A vida é bela e a beleza da vida está exatamente na existência da morte, esse paradoxo que torna nossa vida intensa e bem vivida. Dessa forma, podemos chegar a um bom senso: imagine uma pessoa viver cem ou duzentos anos em um mundo de poucas expectativas, de onde se pode esperar tão pouco, além disso, podemos esperar tão pouco de nosso corpo físico que faz parte do cosmo. Para que viver tanto. Isso não é pessimismo é realismo. Aliás, os geneticistas já estão estudando meios de o ser humano viver mais utilizando células tronco e outros experimentos... Admito que até possam desenvolver métodos para isso como medida paliativa, porém, não poderão evitar que a morte ante conosco. Ela estará lá do mesmo modo. Pode-se adiar, mas não impedir o inevitável. Quem poderá impedir que sejamos assassinados, atropelados ou vítimas de tantos coisas que nos podem acontecer. Portanto não tem jeito mesmo. Ela está aí. Deus nos guarde!! Não quero furar fila, passe na minha frente...

MENEZES, L. F.