ESPELHO MEU

ESPELHO MEU...

Olhando para o espelho, Mikailnikova se pergunta: quem sou eu? A imagem no espelho parece engraçada. Os olhos são grandes e redondos deixando a cara também grande, porém comprida. Nariz por demais afilado; branco e com veias azuis. Os lábios de um rosado claro; precisam de pintura para dar-lhes vida, pois estão pálidos e ressecados. O queixo é o que mais a deixa contrariada, pois é comprido e magro. Ela se acha feia; ainda que outros já dissessem o contrário.

Mikailnikova sorri para a imagem, um pouco sem jeito, em função até de que ela sabe que é observada. No sorriso vêem-se alguns dentes recurvados para dentro e outros quase perfeitos. Volta a analisar os olhos: baços onde deveriam ser claros; pupilas azuis? Talvez turquesa...

Volta-se para os cabelos: não são negros, não são loiros, mas ainda brilhantes; independente dos anos vistos no conjunto.

Desce a vista para o pescoço. Alguns vincos que honestamente podem ser caracterizados como rugas. Porém é sabido que o sorriso vinca a pele do rosto e do pescoço.

Afasta-se um pouco da imagem para ver mais do total da obra. Aparecem os ombros, que para uma mulher podem ser considerados largos, mas ela não se preocupa com este detalhe; o que a preocupa é o queixo. Ah! Já foi analisado.

Abaixo dos ombros para a periferia da imagem vêem-se os braços. Ela junta-os estendidos à frente. Iguais até na brancura. Com mãos de dedos longos e finos, onde unhas encurvadas carecem de pintura.

Resolve não analisar mais nada. Basta!

Mas não tem como não olhar aquele busto imenso naquele corpo magro. Parece que as tetas se juntaram para gozá-la.

Sai correndo sem olhar para trás. Mas sabe que o espelho a acompanhará onde quer que vá.

(abril/2002)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 01/04/2011
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