UMA CRÔNICA PARA NENA MEDEIROS PELO SEU ANIVERSÁRIO
 

Hoje é o aniversário da Nena, gostaria de ir além dos parabéns pra você e dizer alguma coisa a mais para essa minha amiga querida, só que não levo muito jeito, então fui pedir ajuda a duas conhecidas dela, criaturas que eu admiro :  dona Zuleica e a sua fiel escudeira, a espirituosa e “abusada” Helena, cujas atribuições na casa da dona Zuleica é   quebrar os galhos domésticos . Mas qual o quê! O que ouvi da Helena foi: ai dona Zélia, tem dó! Se tá querendo  aparecer pra dona Nena,  deixe a preguiça de lado e dê tratos à bola, a dona Zuleica está aqui me ensinando umas receitas novas, tem tempo pra isso não, né não, dona Zuleica? Esta, com um gesto de cabeça confirmou .   Tudo bem, disse pras duas, a minha vingança é que vou continuar rindo de vocês.


Foi quando pensei em outra pessoa, mas pra essa eu tinha que bater um fio via DDD direto pro céu, teria que gastar uma nota preta nessa ligação, mas tudo bem, ela merece, pensei. Ligação completada, poetinha localizado numa ponta de nuvem conversando com Tom Jobim na calçada  do bar Veloso, réplica do que havia na Rua Montenegro  em Ipanema e de onde observavam a musa inspiradora da famosa canção “Garota de Ipanema”. A esta altura o leitor já sabe de quem estou falando: Vinicius de Morais, que me disse: fala minha filha em que lhe posso ser útil. Quando disse pra ele da minha falta de jeito pra homenagear uma amiga querida que também entre outras coisas é poeta. Perguntou-me o nome, ai eu disse: NENA MEDEIROS, ele riu , a que me chama de Vininha? Respondi: sim. Solícito, afirmou: terei prazer em ajudá-la, mas faça o seguinte: você conhece uma crônica minha que fala de amizade? Copia , que tenho certeza absoluta que ela vai gostar muito. Agradeci e   é o que estou fazendo neste momento.


Desta forma, Nena, eu te homenageio, usando palavras do Vinicius e expressando através delas a grande amizade que tenho por ti. PARABÉNS!! Beijo de Zélia

      
                   Amigos

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto
e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor,
eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.

E eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os meus amores,
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !

Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos
e o quanto minha vida depende de suas existências ...
 
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. 
Mas, porque não os procuro com assiduidade,
não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
 
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem
que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
 
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,
embora não declare e não os procure.
 
E às vezes, quando os procuro,
noto que eles não têm noção de como me são necessários,
de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital,
porque eles fazem parte do mundo que eu,
tremulamente, construí,
e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.

E me envergonho, porque essa minha prece é,
em síntese, dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer ...

Se alguma coisa me consome e me envelhece
é que a roda furiosa da vida
não me permite ter sempre ao meu lado,
morando comigo, andando comigo,
falando comigo, vivendo comigo,
todos os meus amigos, e, principalmente,
os que só desconfiam
- ou talvez nunca vão saber -
que são meus amigos!


A gente não faz amigos, reconhece-os. 


                                                                                                Vinicius 

 
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 02/04/2011
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