CASA COM MÃE

Casa com mãe

Você já reparou como casa com mãe tem um cheiro diferente? Que me perdoem os pais, mas mãe em casa é fundamental. É possível que esteja me perguntando:

_Para que falar disso?

E eu lhe responderei:

-Já se deu ao trabalho de observar sua casa sem a presença de sua mãe?

Minha mãe conta que sua mãe trabalhava em casa. Estava sempre às vistas, fosse sentada à máquina de costura, ao lado do fogão ou ao tanque lá no quintal, bastava olhar em volta e lá estava ela. Imagem e cheiro e voz. Eu não tive isso. Sou filho de mãe da modernidade. Trabalha fora, em dois horários e é vista em casa apenas por algumas horas acordada e todas as horas durante o sono da noite. Vê-la durante todo o dia somente aos finais de semana, dias santos e feriados. Minhas irmãs e eu já estamos acostumados com mãe-relâmpago.

Você me perguntaria de novo:

_Por que insiste em falar disso? Vai enrolar toda a página e tomar meu tempo para falar de coisa que está acostumado? Pior: que todas as criaturas modernas estão acostumadas?

E eu lhe responderei:

-Sim! Porque não estou falando de ausência diária de mãe. Estou falando de dias de ausência de mãe. Já lhe explico.

Como disse não me inquieta ver o dia transcorrer sem minha mãe. O que me trouxe ao teclado para desabafar foi o fato de ver minha casa vários dias vazia da presença feminina e querida de minha genitora. Ela foi visitar uma de minhas irmãs que tivera bebê. Estava por lá há uns três dias, mas me pareciam anos. Em casa ficamos meu pai e eu. Casa de varões. Casa muda e sem cheiros de mãe.

O silêncio da rotina dela em casa me desesperou. As manhãs não tinham mais o cheiro de café fumegando no coador com sua fumacinha vazando pela báscula. Não se ouvia mais o tilintar de talheres e nem o som de água de torneira no silêncio da madrugadinha. O quarto do casal não cheirava mais a hidratante de frutas. Não vou falar de cheiro de almoço ou jantar porque esses não eram cheiros produzidos por ela. Eram cheiros de pai.

Os dias transcorriam lentamente. Ela me ligava, perguntava como estávamos. “Bem.” - respondia, com vontade de pedir que voltasse logo e, intimamente dizia, sinto sua falta e falta do cheiro de mãe em casa.

Eram umas dez horas da manhã, voltava de uma caminhada na praia e, ao me aproximar da entrada do quintal, meus sentidos foram despertos por um delicioso e familiar cheiro de café fumegando no coador com sua fumacinha vazando pela báscula.

O coração sorriu como um menino que recebe o presente que esperava. Ela estava em casa!

Reconheci sua presença pelo cheiro que voltara à casa. Cheiro de casa com mãe.

Bem que poderiam inventar um spray com esta fragrância.