A ridícula vida de uma solitária.

Uma vez eu pensei que seria louca.

E eu tinha medo disso, mas percebi que era ridículo ter medo, e mais ridículo ainda, era achar ridículo sentir medo.

Eu não precisava me preocupar com nada...

Do que valeria a pena se eu estava cansada de tudo.

Eu queria ser como todos os outros. Mas para ser clara, eu nunca fui. Por um lado todos eramos iguais, mas era essa igualdade que nos tornava diferentes.

Eu não conseguia me relacionar com outras pessoas. Não pelo fato de timidez, posto que eu era desinibida.

Minha infância?

- Mmmm, ah. Eu sempre fui uma criança solitária.

Nada me completava.

Nada me contentava.

Nada era perfeito.

Eu nunca estive completamente presente... Todos diziam: " Junte-se a nós!" Mas ninguém sabia ao certo se eu me juntaria a eles ou não.

Eu era forte, inteligente, tinha vários potenciais, mas os disperdiçava.

Nunca fui do tipo que corria atrás de roupas e sapatos liquidados. Possui sempre um desejo de trabalhar em lugares desprovidos das mais altas tecnologias ou de bons salários e frescuras.

Trabalhei por pouco, para comprar coisas inúteis.

Não cheirava nem fedia na história da humanidade.

Andava de um lado à outro, sem propósito ou rumo.

Eu não fazia guerra.

Não fingia depressão.

Não acreditava em reis, nem em deuses que mudariam minha vida.

Meu foco principal era de que eu era a responsável pela minha vida, pela minha deressão. Ninguém poderia melhorá-la a não ser eu mesma.

Meu coração era oposto, mas minha sensibilidade, cativante, dáva-me alertas dos ocorridos.

Eu nunca acreditei em dinheiro, cinema ou estrelas do rock.

Criava filosofias das janelas dos ônibus. E o que faziam delas diferentes das demais, eram por não possuir popularidades. Tornando-me meu próprio escravo.

Assim também como minhas teses, os meus ritmos e meu ego.

Descartei a idéia de fazer amigos, pois nunca fui alternativo.

Nunca precisei de de máscaras, profissões e músicas para me definir.

E quando me perguntavam: "- O que você é?". Respondia: " - Eu sou uma merda ambulante, amo o que sou e foda-se o resto!".

Meu tempo era vazio, e eu nunca fui de revidar, desde quando eu li uma frase no muro de uma casa abandonada.

"VOCÊ É O QUE MERECE SER..."

Eu não podia saber o que eu era. E nada verdade, nem estava disposta a isso. Se fosse isso mesmo então tá bom... EU SOU O QUE SOU!

A realidade por uma lado era assustadora e o mundo platônico nunca foi uma boa disculpa.

Perguntavam-me seu sofria de alguma doença grave ou se tinha algum problema... Eu os olhava dos pés a cabeça e perguntava o mesmo, e ainda dizia que poderia ajudá-los se assim fosse.

Fui no psicólogo uma vez e depois de muitos bate-papos ele me perguntou se eu já havia amado alguma vez. Respondi:

"Tem um homem perto da minha casa que passeia com o seu cachorro toda tarde..."

E ele: "E o que isso tem have?"

Eu: "Quando o cachorro faz suas necessidade fisiológicas na calçada, o homem sem restrições humildemente limpa a sujeira de seu amigo... Acho que isso é amor!

Eu não tinha muito carisma. Mas depois de acompanhar com os olhos os passeios do homem com o seu cachorro, eu decidi comprar pratos e talheres, porque eu só usava descartáveis.

Não era preguiça por lavar louça mas era porque eu acreditava que cada coisa devia ter o seu momento e depois, não mais existir.

Eu comia e depois jogava fora os descartáveis, era sempre assim.

Foi então que com os pratos e os talheres, aprendi que todo mundo nasce uma única vez, e todos amam relembrar aquele momento...

Eu fazia do meu estado de espírito uma normalidade constante.

Inventava estratégias para escolhas óbvias.

Minha cabeça as vezes vivia longe... num universo qualquer.

Principalmente quando os comerciais da TV me enchiam com questões de felicidade. Para mim buscar felicidade era uma questão de ignorância.

Eu nunca tinha ligado para a força que eu tinha, até me dar conta de que minha única alternativa era ser forte. Não sofri influências.

Eu usava batom vermelho e ficava incrivelmente bonita, mesmo sabendo que antes de passá-lo devia encher a cara de pó compacto para disfarçar as olheias e os cravos.

Mas meu gosto era por batons vermelhos e não por pó compacto. Que, na maioria das vezes, eram usados como disfarce.

E eu nunca precisei nem gostei de disfarce. Por mais que quisesse fugir do mundo e das pessoas... Eu nunca fui notada mesmo.

Para mim não existiam livros de auto-ajuda, existiam batons vermelhos que me faziam dizer na frente do espelho: "Você é perversa!"

Eu era professora e aluna, eu ensina e aprendia comigo mesma.

Nunca precisei de modelos para dizer o certo e o errado.

Aprendi sozinha a viajar com os meus olhos e também com os meus pés. E entender realmente o que eu sou...

Mesmo de uma forma ridícula e solitária.

Mesmo que eu chegue tarde, e seja presa.

Que grude chiclete debaixo do bando e roube uma moeda de um mendigo.

Mesmo da melhor ou da pior forma...

Mesmo que as formas ainda não sejam formas...

Eu continuarei vivendo.

Belra Cross
Enviado por Belra Cross em 03/04/2011
Reeditado em 03/04/2011
Código do texto: T2887522
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