Campo minado

Hoje me senti inspirada a escrever sobre o bombardeio diário de informações negativas que vamos assimilando ao longo do dia. Acordamos, passamos por nossos momentos de higienização pessoal, vamos ao café da manhã e nos encaminhamos ao nosso local de trabalho.

No trajeto de casa até o local de trabalho, vemos e ouvimos agressões verbais e físicas, de pessoas já com um alto grau de estresse, pessoas que parecem não ter dormido nada, olheiras profundas, olhar triste e focado numa única e parece-me até urgente, necessidade de estravassar suas iras, suas neuras, sua falta de harmonia e equilíbrio, e a sua falta de paz. Até chegar ao nosso destino, nos deparamos com acidentes de trânsito, com tentativas de assalto a mão armada, com mulheres, jovens e crianças deitadas sobre calçadas, em pequenos jardins da cidade. Uns cheirando cola, outros bêbados e outros tantos pichando e denegrindo os bens públicos.

Dando continuidade ao nosso objetivo que é chegar no ambiente de trabalhalho, cruzamos com os meios de transportes abarrotados,lotados de gente se acotovelando e brigando por um lugar no tapa, sem respeitar idade, deficientes físicos, crianças, grávidas, nada, apenas a luta diária da sobrevivência e do bem estar que cada um acha que tem direito, sem pensar no direito do próximo.

Enfim chegando ao local do nosso trabalho, somos bombardeados com cobranças, com tempo de entregas, com providências urgentes. A impressão é de que o tempo corre e nós ficamos estagnados, pregados no chão sem conseguir acompanhar a velocidade das coisas. Novidades a serem aceitas,a serem entendidas, aprendidas e rapidamente inseridas nas tarefas diárias. A cada milésimo de segundo que passa, novas tendências, novas tecnologias, novos processos tem que serem absorvidas por nós, para que não sejamos tidos como atrasados. Tudo o que surge no mercado de trabalho, tem que ser imediatamente observado, estudado e aplicado para que outros mais bem estruturados e equipados que você não lhe roubem o emprego. E falando nisso, olhando por detras da vidraça do escritório,pode-se ver, uma fila de pessoas a procura de emprego. Uns mais bem intencionados, de fato querendo uma única chance de mostrar que podem sim dar conta do recado e serem bons funcionários, outros em busca de um curto tempo de trabalho, para depois ter direito ao seguro desemprego. Uns com alguma escolaridade, com currículos enfeitados com imensas listas de cursos, e outros apenas com a cara e a coragem.

Chega enfim a hora do almoço. Caminhando na calçada apinhada de tudo que é tipo de gente, que anda pra lá e pra cá apressadamente, sente-se um odor mesclado de suores, perfumes e frituras no ar. Uns entram num bar e comem quietos, perdidos em seus pensamentos, sabe-se lá no que pensam...Outros reclamam a demora, outros o preço, outros a comida que chega já fria. O barulho é intenso por todos os lados. Buzinas, freadas, vozes, músicas, e noticiários em vários televisores ligados ao mesmo tempo, posicionados em cantos estratégicos do estabelecimento. As músicas são todas frenéticas, na tv, notícias de assassinatos, estupros, alertas com fugitivos de cadeias, invasão de favelas, sequestros, enfim, uma enxurrada de negativismos que vão grudando em nós, dentro e fora de nós, impiedosamente nos sorvendo a leveza, a beleza que deveríamos ter da vida.

O retorno se faz minutos antes até do tempo que se tem para almoçar, para dar conta das tarefas do dia, que só se multiplicam. O dia passa rápido e logo chega a hora de voltar para casa.Novamente no mesmo trajeto da vinda é a ida, mas desta vez com tiroteios entre policiais e traficantes. Tráfego intenso, filas quilométricas, pessoas assustadas, gritos, choros, ameaças, carros com vidros estilhaçados por balas perdidas, pessoas e mais pessoas apavoradas. Mais de três horas até chegar em casa, num bairro onde ninguém conhece ninguém. Casas com janelas gradeadas, ninguém na rua, silencio total. Vez ou outra um cachorro que late perdido na morte do bairro após as oito horas da noite. Abrindo a porta de casa, o corpo já consumido em pura tensão, a boca é emudecida, e o olhar é perdido. Estomago meio adormecido, até um medo do que se vai ver ou ouvir, e como se fará sentir vivo, e feliz. Mecanicamente a comida é consumida e a tv ligada na tentativa de fugir da realidade sufocante. Globo, Record, SBT, e todas as demais dão continuidade ao que fez e faz parte de sua vida desde o seu despertar até o fm de sua existência. E sempre é claro com alguns diferenciais,na tentativa de ganhar mais ibope. As imagens na tv são de negativismo , terrorismo, morte, medo, doença... Tentativa na internet... vírus, prosmicuidade, inversão de valores, vazio, falta de conteúdo, vulgaridade, baixaria, pornografia, traição, harkers....

Mulher sem carinho, marido sem beijos, filhos sem conversas, parentes sem notícias...

E isso é a rotina de nossas vidas. Sem falar que as novidades vem numa velocidade estrondosa. Sem eu falar dos desastres naturais que tem ocorrido. Sem eu falar na destruição do planeta, do nosso meio ambiente. Sem eu falar das chuvas torrenciais que tem ocorrido. Sem eu falar nas propinas, nas falcatruas diárias, na política, na religião, nos fanatismos, nas diferenças sociais, na precariedade da saúde, dos sistemas de saúde, nos sistemas prisionais, sem falar no egocentrismo

vigente, nas drogas, nas prostiuições, nas barbáries dentro das famílias. Sem eu falar de quase tudo...

Vida?

Isso é vida?

Não...

Isso é sobrevivência. Esse é o caos da humanidade.

O lado positivo de tudo isso?

Têm.

Têm sim.

Mas a proporção é tão desigual que o positivo some mediante o negativismo que é a vida hoje. Estamos sendo dia após dia engolidos, devorados, massacrados pela miséria humana.

O mundo é uma gigantesca bola de imundices. É um imenso aglomerado de seres parasitas e sugadores, fétidos, necrosados e irrecuperáveis, destinados a exterminação da espécie humana na Terra.

Essa foi a imagem da vivência de um homem que eu conheci na internet. Um ser humano que nasceu segundo ele, cheio de sonhos. E que se diz um sobrevivente na guerra diária da vida. Tem no seu caminhar uma batalha constante, mas que perdeu o poder da credibilidade. Não crê numa existência com realização de sonhos pessoais ou ainda bem menos em sonhos sociais.

É talvez eu concorde muito com ele, de que talvez esteja chegando o fim de uma raça humanamente divina. Mas ao contrário dele eu vejo sempre uma gota de esperança no ar.

Não penso e não quero pensar nem crer tampouco, no abandono de Deus por seu povo. Deus é perfeito e dono de toda a criação e nós fazemos parte da sua obra de arte, somos a parte mais querida, mais amada por Deus. De todos os seus feitos nós somos os únicos presentados por ele com o dom de sermos a sua imagem e semelhança.

Não sei o que é vivenciar o que meu amigo vivencia, pois minha realidade de vida é bem diferente, por isso mesmo eu não posso saber concretamente a extensão do que ele me fala, do que ele experimenta, mas mediante minha realidade eu acredito na recuperação da espécie humana.