CHACINA NO RJ: morrem as crianças; morre o futuro

Há quem diga que por estar em outro país, vivo outra realidade e que a sensação de perda é diferente. Ledo engano.

O que ocorreu no Realengo hoje trouxe uma perplexidade, uma incredulidade e uma dor lacerante em mim. O que um rapaz de 23 anos pensa no instante em que mata crianças inocentes? Ele pensa? Não pensa? Está drogado? Vinga-se? Acha que é Deus? É louco? São perguntas e mais perguntas que não serão respondidas, ou serão cogitadas como uma "possível verdade", mas que não se saberá já que o desgraçado está morto. Suicídio? Desacredito. Sinto a força da milícia nesse caso e, confesso, se estivesse próximo e armado, também teria "suicidado" o indivíduo.

Estamos vivendo um paralelo de violência incabível nesse país. Nem vou mencionar a loucura do mundo, vou apenas falar do nosso próprio eixo. Que acontece por aqui com essas explosões com TNT de propriedade do exército? Como essas pessoas possuem armas e as usam de forma tão fácil? Onde se aplica a lei de controle de armas e drogas?

Sou, essencialmente, um jornalista político. Meu universo está resumido nas atitudes governamentais de um outro país e é ali que relato o que vejo, indago, questiono e denuncio. Mas como deixar de lado uma afronta humana como essa? Percebo que meu texto só indaga, não propõe nada, não mostra soluções e isso todos estão fazendo hoje; mas estou atônito. Estou aflito e desesperado com a morte do futuro. Com a sequência horrenda de mortes brutais que ocorrem no meu país. Com a impunidade dos poderosos e a dor cada vez mais sem esperança dos que estão à mercê do poder. Estou abismado com a facilidade com que se ceifa vidas. Estou em choque.

Não sei, sinceramente não sei o que dizer aqui, mas lamento pelas famílias, pelas crianças e acuso, grito, esperneio para que a sociedade tome a frente dessa loucura. Que se exija respeito, dignidade e justiça. Que sejam punidos os que acobertam delinquentes, sejam maiores ou menores, sejam eles pobres ou ricos. Que haja LEI para esses maníacos. Já está mais que na hora da mudança do Código Penal desse país tupiniquim, mas note: que não se puna apenas o pobre, o desgraçado; que se punam todos: o militar, o político, a sociedade. Todos o corruptos e coniventes com a morte do futuro.

E antes que me esqueça, já que estou um tanto repetitivo: o futuro é seu também. O filho pode ser o seu também. Lembrem-se: chorar é uma atitude fisiológica que a dor nos impõe. Decidir e exigir, é uma atitude de cidadão. Seja.