A triste lágrima de um sorriso

          "Certa vez, uma criança me perguntou por que eu gosto tanto desse trabalho, e com um sorriso no rosto eu disse, “ah, sei lá... deve ser porque eu gosto de ver as pessoas felizes.” Então, sentindo-se satisfeita com essa resposta, ela respondeu-me “Então quando crescer quero ser igual a você. Sabe o que eu disse a ela? “Você já é igual a mim, só que ainda não se deu conta.

          A inocência da criança é impressionante, ela capta os sentimentos, abstrai os pensamentos e diz, sem ter medo das consequências. Devíamos aprender com elas, são os “maiores” professores do mundo.

          É nesse dizer sincero que a criança supõe que todo mundo é feliz. Que o circo é um santuário do sorriso. Mas o que ela não sabe é que por trás da tinta, esconde alguém que também chora alguém que sofre. Mas também ela não precisa saber disso, basta que ela entre no santuário, e simplesmente ria, e se emocione.

          Por isso meus sentimentos passam despercebidos por tantas pessoas, por tantas gargalhadas e palmas. Ninguém acredita que eu também sofro de dor de cabeça, dor de estômago, pedras nos rins. Que também choro ao ver um filme triste, que pago contas sempre no 5º dia do mês. Ninguém acredita que eu faço xixi e cocô...

          E por mais que eu diga “respeite meus sentimentos”, as pessoas olham pra mim e dão risada, nunca me levem a sério. Dizem que sou o símbolo da alegria, da diversão e que não tenho o direito de ser triste ou chorar. 

          Passei a minha infância toda, procurando um culpado por isso. E me surpreendi ao saber que não era um culpado, e sim culpada. Minha mãe. Ela foi a maior palhaça do mundo, e profissional, ela era uma palhaça sem tinta na cara. Quando meu pai chegava em casa, e não sabia apalhaçar seus sentimentos, fazia minha mãe gritar.           

          Curioso, como sempre fui, perguntava a ela, por que tanto chorava. Ela me dizia de “cara limpa”: Nada não meu filho, devo estar gripada. Mas e esse rosto vermelho, passou maquiagem de um lado só? Deixa disso menino, deve ser uma febre da gripe. Minha mãe nunca soube que eu sabia que ela era a maior palhaça do mundo. Porque por mais que sofresse, inventava-me piadas e malabarismos, fazendo sorrir. Ela era feliz do seu jeito, do que jeito que acreditava ser.

          Também devemos ser felizes do nosso jeito, sem reclamar e se lamentar ao que não se leva a nada. Se chorar resolvesse problema, ninguém passava fome e sede, ninguém era pobre. Chorar, só se for de emoção, sofrer só se for de amor. E sofrer de amor ainda não é sofrer. É viver, por que quando se ama, se vive.

          Sem contar que é chato pra caramba ficar se lamentando no ombro de um amigo ou de alguém da família que só espera sucesso e esperança de você. Ninguém merece ouvir suas dores, mesmo porque o ouvinte também tem as dores deles. A não ser que você não tenha problemas e esteja preparado pra solucionar problemas, ouça. Mas saiba que já é um problemão aprender a ouvir.

          Aprenda então a resolver seus problemas da melhor maneira, sem criar outros. E sem mentir para conseguir a solução. E nunca pense que existem pequenas mentiras. Você já está mentindo, e quando se mente. É para si mesmo. A verdade dói, mas faz crescer.

          E me perguntaram “então você não é feliz?” Claro que sou. É tão simples lidar com a dor, mais simples ainda é ser feliz, mesmo que incompletamente. Uma vez, me ensinaram que ao acordar e olhar no espelho depois de lavar o rosto, se eu sorrio para mim mesmo esse sorriso ficará na minha mente por todo o dia, e não haverá mal que o apagará, porque ele se tornará boa lembrança e essa nem o tempo apaga.

          Aproveitei então esse ensinamento e acrescentei mais um ingrediente: de manhã, olho para o reflexo e digo em voz alta: “Você é lindo, é único e não existe ninguém tão maravilhoso como você”. E seu dia, será fantástico, melhor do que ontem e com certeza inesquecível. Façam esse teste.

          E por que eu escolhi essa profissão? Eis a resposta. Porque sou um ser humano. E como tal, prefiro fazer as pessoas sorrirem e estarem bem consigo mesmas, e com isso fico feliz também. Mesmo que por poucos momentos. E como todo ser humano, estou sempre a espera de em algum momento do dia, perceber um sorriso e ao fechar das cortinas, ouvir palmas em sinal de um muito obrigado."
Renato de Paula Silva
Enviado por Renato de Paula Silva em 08/04/2011
Reeditado em 22/07/2020
Código do texto: T2896042
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