A FORMIGA

Você já teve a oportunidade de observar uma formiga? Não estou falando de uma formiga qualquer, mas de uma formiga saúva, daquelas vermelhas, cabeçudas, que vivem para cortar folhas e transportá-las para o formigueiro.

Pois é, quanta coisa a gente aprende quando observa a forma de atuação dos animais. As saúvas são muito disciplinadas, vivem numa sociedade organizada e trabalham incansavelmente, principalmente à noite, mas mesmo durante o dia não é difícil encontrar aquela enorme fila na qual umas vão e outras vêm, cada uma carregando sua folhinha.

No meio de tantas formigas, às vezes deparamos com uma especial, ela arrasta uma enorme carga, uma folha, às vezes até vinte vezes maior do que ela. Mas ela não perde a concentração e nem desiste do seu intento apesar de todos os obstáculos e adversidades. O vento, que nessas horas teima em soprar, faz com que ela constantemente se vire, às vezes com as perninhas para cima, tal é o tamanho da sua carga. Mas ela continua impassível no seu trabalho, não perde a concentração, não desiste.

Um simples ramo de capim que esteja atravessado no caminho transforma-se em um obstáculo que vai exigir da valente formiguinha um esforço sobrenatural para superá-lo. Mais adiante um pequeno buraco se torna mais uma prova para a tenacidade da formiga e, logo após, uma pedra a expõe a novas e penosas tentativas para seguir adiante.

É interessante como a formiga tem uma capacidade natural de desenvolver estratégias. Na maior parte do percurso, ela segura a folha com suas serrilhas e a apóia nas costas, transportando-a como se fora uma bandeira. Noutro momento ela empurra sua carga, pois essa é a forma mais fácil para transpor aquele trecho. Mais adiante, ela segura numa ponta e, andando para trás, vai puxando a enorme folha até atingir um local mais propício, quando retoma a posição mais usual e parte com sua bandeira em direção ao formigueiro.

Chegando à entrada do formigueiro, a formiga para e deposita sua folha no chão. A primeira impressão é de que ela não calculou bem e acaba de frustrar todos os seus esforços, pois ela abandona a folha ali e entra no formigueiro. Nunca marquei uma formiga para saber se ela volta, mas o certo é que em poucos instantes saem do formigueiro diversas formigas e com habilidade cortam aquela folha em pedaços menores que vão sendo transportados um a um.

Com a gente acontece algo semelhante. Logo cedo iniciamos nossos estudos e começamos a acumular uma determinada carga de conhecimento. Quando concluímos a faculdade, essa carga já tem um volume considerável, mas ainda nos falta a experiência. Como ela só vem depois de colocarmos nossa folha nas costas e percorrermos o caminho que leva ao formigueiro, corremos atrás de aprender estratégias que nos facilitem enfrentar com menos desgaste essa tarefa.

Isso nós conseguimos quando participamos de cursos de extensão e de seminários, quando concluímos uma pós-graduação e adquirimos uma especialização que vai ajudar a nos abrir as portas do mercado de trabalho.

Chegamos ao nosso sonhado emprego com uma carga enorme, conhecemos toda a teoria. É nessa hora que precisamos nos lembrar da formiga. Devemos tirar a carga dos ombros, chamar nossos companheiros de trabalho e realizar o treinamento de todos, preparando-os para o trabalho em equipe.

O individualismo não conduz a nada. Se não fizermos como a formiga, ficaremos tentando enfiar aquela enorme folha dentro do formigueiro. Como a entrada é pequena, impediremos os outros de realizarem suas tarefas e acabaremos expulsos dali, pois a nossa presença em nada contribui para o bom andamento das atividades do formigueiro.