LINGUAGEM DOS SINOS

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Uma diamantinense, residente fora, emprestou-me o livro Linguagem dos Sinos, com a seguinte dedicatória do coautor: “Para a caríssima Lúcia, diamantinense que não se desgruda da terra natal, com todo o meu apreço e amizade. Quincas”. Durante a leitura do livro ecoavam em mim os sons da linguagem sineira e, através dessa linguagem, novo brilho diamantino também entrou em mim como aquele trazido pelo som das vesperatas.

Quando ainda não se usava megafone de grevistas nem sirene de policiais ou de ambulâncias, o sino já funcionava como megafone das glórias divinas. Outdoor falante localizado nos campanários que, na Alta Idade Média, já se alçavam acima do telhado das abadias ou das catedrais góticas.

Badalando, os sinos soam alegres; tocando, soam tristes. Em algumas comunidades do interior, toques apropriados aos diversos acontecimentos. O dobrar dos sinos de nossas igrejas barrocas ainda anuncia desde a morte do bispo até um incêndio. Em Diamantina, também o toque de entrada do sacerdote na igreja; o toque do viático, assim chamada a comunhão levada aos enfermos impossibilitados de sair de casa; o toque festivo do Santíssimo; o toque de nascimento e o repique de anjinho para o enterro de crianças; o toque aos finados; o dobre do centurião; o de Nossa Senhora das Dores; o toque de Nosso Senhor dos Passos; o toque fúnebre pelos carmelitas; o dobre por ocasião do falecimento do papa; o toque dos enforcados. Havia também o toque para as autoridades, inclusive civis, como havia o toque de recolher.

Versátil, o sino é multifuncional, como a dizer, em tradução livre do latim: “Louvo a Deus, convoco o povo, reúno o clero, choro os defuntos, abrilhanto as festas. Lamento a morte fazendo bater no peito, dissipo os ventos, celebro o domingo, pacifico os indivíduos cruéis. Com júbilo, canto as festas sagradas. Suplico para afugentar as pestes e as tempestades; choro os filhos que sucumbiram na guerra; a todos, aos amigos e aos monges, peço paz”.

Como o poeta da aldeia, senti a “linguagem dos sinos”: “Sino, coração da aldeia; / coração, sino da gente / Um a sentir quando bate; / outro, a bater quando sente”. Me lembrei de JK... Ah, e a propósito, alegre Páscoa, ao badalar dos sinos.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 11/04/2011
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