Nos tempos do laquê

Falam muito nos tempos da Brilhantina. Glostora nos cabelos, pasta dentifrícia Kolynos, aí por diante.

Isso me reportou aos cabelos femininos. Um horror. Fixador era laquê. Não fixava, grudava. O cabelo era enrolado primeiro em rolinhos de plástico, depois ficávamos durante minutos intermináveis sob aqueles secadores que pareciam capacetes de viagens espaciais, que nos deixavam isoladas do mundo, porque não ouvíamos mais nada além do ruído ensurdecedor que ele fazia.

Depois finalmente, começava a tortura propriamente dita. Tira rolos, escova, puxa e faz maçaroca. O produto final parecia uma cachopa de marimbondos assentada sobre nossas cabeças. Quanto mais comprido o cabelo, mais maçaroca, porque o peso fazia com que o cabelo “despencasse”. Por fim, o laquê. Tinha um perfume gostoso. Alguns, os de qualidade. Outros cheiravam a álcool.

Penteado feito com capricho durava dias. Até porque desmanchá-lo exigia muita coragem. Lavar sem abrir a maçaroca, nem pensar. Melhor seria passar máquina zero. Talvez seja essa uma das razões da minha exagerada sensibilidade no couro cabeludo.

Passávamos mais tempo tentando desmanchar o penteado, do que havíamos levado para fazê-lo. Mas a tortura era muito pior. Eu optava por um pente de dentes graúdos, ia passando da ponta até a raiz.

A última vez que me submeti a essa tortura medieval, foi no casamento da minha filha. A cabeleireira não conhecia meu cabelo, ficava o tempo todo repetindo que meu cabelo era muito liso, deveria ter feito volume, não deveria ter lavado, não deveria............... Quando ela começou a maçarocar e colocar fixador,mecha por mecha, senti vontade de pular fora. Sabia o que me aguardava. Foi terrível. Fui desembaraçando as mechas lentamente, dia após dia, durante vários dias.

Está tudo gravado para a posteridade, em fita e fotos. Eu e minha cachopa. Quase “black power”. ( 13/11/06)