Nascidos no outono
 
Entre o viver o seu destino e mergulhar no porque as coisas são como são o ser humano poderá vislumbrar as alegrias ou amargar tristezas, porque há uma grande diferença entre o vir a este mundo com abundancia de sorrisos a sua volta e anexá-los a sua vida e pousar neste planeta sob sombras de um triste destino, e nele padecer.
Não há uma fórmula pré determinada para se mudar a trajetória da vida, muda-se conforme vários fatores, e na mesma proporção vive-se conforme o pensamento de que nada pode ser mudado, de que uma vez posto neste mundo, deve-se caminhar em direção ao fim.
É um pensamento errado? Catastrófico ou irremediavelmente fatídico? Talvez, mas o livre arbítrio nunca deu e jamais dará subsídios para que alguém seja o que sonha ou deseja ser, o dinheiro seria parte, as habilidades humanas seriam parte, o conhecimento seria apenas uma parte, nada a meu ver levaria para o tumulo uma pessoa completamente realizada, com seus sonhos e lutas completados e pior ainda seria tudo isso,  para os desafortunados nômades de migalhas e sobras.
Grande parte da humanidade vegeta em suas aspirações e  amargam a resignação de ver o seu semelhante ter uma vida digna, mesmo que sem sonhos realizados, mas digna do ponto de vista de cada um, pois nós os terráqueos coletivamente somos um fracasso aos olhos do universo. A miséria é um fardo de escolhidos da desgraça, que o vizinho oculta ou desconhece voluntariamente.
Eu comparo, como pretenso poeta, a vida feliz como a um verão, onde a dor é subjetiva e não aparece, o amor brota em qualquer direção, vive-se sob as asas de Deus e pensa-se na eternidade como o caminho irreversível de todo o ser que na terra vive.
Há fatores que me fazem conjecturar sobre isto, sim, mas já neste ponto do texto, não precisaria dizer, bem o sabem em que lugares encontrariam sinais do verão.
Diriam-me, mas não há tristeza neste mundo? Há, mas a predisposição para a alegria suplanta os infortúnios. O verão é neste caso, o nascer decente, o diário abraço festivo de pais e irmãos, um lugar feliz onde estudar, uma igreja onde ir conhecer Deus, a voz que ensina o bem e não a ação que pratica o mal. O governo de um poder superior ao dos homens, a ternura diária e gratuita entre todos.
O homem é um sofredor a partir do momento em que ele constata de que o sorriso não faz parte da sua geração, que num outono qualquer ele nasceu, e este sombreou seu caminho, primeiro pelo olhar discriminatório de seu semelhante e depois pelo fatalismo trágico reservado aos pobres do mundo, filhos da fome e da desesperança, mendigos em seu outono.
Para estes há uma eterna tempestade a escurecer o horizonte, a dor que corrói o íntimo é a fome, que sucedeu a tristeza, e é flagrante e inalcançável a fronteira que os afasta do verão, e assim vivem e morrem como folhas no outono, que viram intrusos na terra que os ignora e de que são apenas viajantes da segunda classe.

Malgaxe
 
 
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 14/04/2011
Código do texto: T2908689
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