O limite da dor

Quando adolescente, li uma crônica do Paulo Mendes Campos, intitulada “Para Maria da Graça. No último parágrafo o autor diz: “Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça”.

Esse trecho é um dos mais belos que li ao longo de minha experiência como leitora que sou.

Não sei o porquê, mas hoje veio-me à memória, feito uma calma onda quebrando na areia, o fragmento acima mencionado.

Qual o limite da dor?

Certo dia escrevi que a dor não curada pelo tempo não existe, pois dizem que o tempo a tudo cura.

Guardei a frase do Paulo Mendes Campos como a um tesouro achado numa ilha deserta e jamais a esqueci.

Quando a paixão fincava suas raízes no meu coração e, por alguma razão, não frutificava – o fruto morria antes da maturação – a frase saltava de uma das gavetinhas de minha memória e eu renascia como uma fênix. E foram incontáveis renascimentos, decorrentes de outras também incontáveis desilusões amorosas.

Quando a paixão findava sua apresentação eu vivia o luto necessário, derramava as lágrimas necessárias e sofria cada dor de forma intensa. Mas havia o limite imposto por mim e que um dia fora aprendido dentre as páginas de um livro de crônicas.

Aprendi a impor esse limite e há tempos sei que a dor, qualquer que seja ela, tem sua justa medida. Como disse Cecília Meireles: “Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira”.

A partir do momento em que nos permitimos ultrapassar os limites da dor, incorremos no grave erro de nos machucarmos ainda mais, de não deixarmos a ferida cicatrizar. Talvez seja nessa ultrapassagem do limite que as tragédias pessoais aconteçam, que o pulo para o abismo se materialize ou que alguma atitude drástica saia do armário e nos tome de assalto.

Não importa o tamanho da dor, sua causa e consequência, uma hora ela passa, arruma suas malas e muda de casa, assim como a finitude das paixões. Afinal, “infinito enquanto dure” é apenas e tão somente o amor contado por Vinicius.

Rita Venâncio.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 16/04/2011
Código do texto: T2912739
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