Pásmem, mas é verdade

Brasil, país de grandes contrastes e grandes dificuldades de compreensão. Espaço de misturas de credos, raças, níveis sociais, como também se caracteriza como templo da violência, da corrupção, do desrespeito, da intolerância e falta de gratidão. Neste mesmo solo está contido o tido e o não-tido direito de todos perante uma lei magma que não é nem existe para todos e o caos se instala aqui, ali, onde a imprudência assim permitir. É justo? É injusto? Quem sabe? Quem se habilita a responder?

Por aqui nasceu o contraste, o traste contrato de pode quem tem, quem é, quem se enlanguesce na vida pela vida dura dos outros. Foi assim, é assim e querem que a gente pense que assim sempre será. Desde o ato violento contra a terra-mãe, ato de violência, de estupro daqueles que aqui chegaram e se sentiram os donos, os colonos, colonizadores, reis e donos e foram cercando, explorando, tombando para si o que já pertencia a outros. Como se aqui fosse terra de ninguém e seus filhos nascessem filhos de puta, desconhecedores dos pais.

E de contraste se vive até os dias de hoje. Por que divulgar tantas maravilhas de sol, mar, vegetação, recursos naturais, se os filhos seus se ofuscam diante de tanta beleza e se envergonham de olhar a si mesmo. Porque não se veem, não se projetam em tantas riquezas e belezas, patrimônios privados. Por aqui pedreiros constroem mansões enquanto moram em “quixós”, espaços improvisados ou casas que não tem se quer um quarto privado para os amassos noturnos com a esposa.

Eu me envergonho de mim, mas não pelo que sou ou me construo a cada dia, mas pelo que a vida Brasil me obriga a conviver a cada novo nascer do sol sob esta pátria mãe gentil. Gentil? Acordar de dor de dente e ficar com enxaqueca porque não se tem acesso a médicos, se ver largado nos corredores frios de hospitais sem tratamento, respeito ou mesmo um olhar humano para nossa dor.

Pátria mãe gentil? E se fosse madrasta, como seria então?

Quem pode responder ser demagogia? Quem pode? Os políticos? Os religiosos? Pessoas do direito? Cidadãos brasileiros de acesso a conhecimento, cultura, situação econômica mais alargada? Faça sorrir quem encontra graça ou tem humor ainda nessa vida.

A sua vida não te pertence, a cada dado momento te tiram o direito de ir e vir. O direito de ter direito ou mesmo o direito de simplesmente querer ter direito. É lamentável, lamentável mesmo. Vivemos a era da intolerância e da ingratidão. Não se pode confiar em quem elegemos e deveria nos representar. É uma classe de corrupção, escândalos e interesses próprios. A maior vergonha nacional. Tudo começa ali, naquele congresso de insanos, alucinados, dementes, protótipos de tudo aquilo que não podemos desejar ser.

Agora deram para entrar nas escolas e tirar a vida de inocentes. Fazer da sala de aula um mar de sangue, de horror e de tragédia. Corpos humanos caindo sem a menor piedade ou respeito ou tratamento dado ao cidadão independente de raça, credo, idade, nível social, situação. E querem agora colocar culpa apenas nos educadores, na escola, na educação, pode? Como culpar a educação, os professores se na escala social são os profissionais maltratados, desrespeito, sem valor existente nesse pais de injustos.

Nessa profissão quem quer comer, cuidar de sua família e ter lazer deve ter jornada dupla ou tripla. Não se pode trabalhar apenas um só expediente, caso faça isso, é abortado socialmente. Aqueles que ralam para sobreviver, pasmem, no segundo horário já está esgotado. Não é fácil trabalhar com gente e construir cidadãos para o bem.

E a tal liberdade de imprensa que pode dizer, mostrar, tripudiar, emitir juízo, formar opinião sem qualquer constrangimento. A imprensa não respeita nem a dor das famílias em chorar a dor, a partida, a despedida de seus mortos. Chega, invade, corrompe, emociona e daí?

E se esse trabalho televisivo tiver outro viés? E se chegar de outra forma na vida daqueles que admiram o crime organizado, os falsos heróis ou a bandidagem? Se ao invés de estarem mostrando a realidade dos fatos incentivar outros a praticarem tais atos?

Que terra é essa? Que país é esse que só é permitido ou só tem audiência a dor, a maldade, a ingratidão e não nos damos conta de que somos reféns desse fruto que estamos plantando. Somos reféns dessas imagens que permitimos encher os espaços de nossos lares e serem responsáveis pelos gestos, atos, comportamentos e costumes de nossas famílias.

O medo, a insegurança, a desconfiança são as situações que nos são apresentadas. Seja nos programas dominicais, sejam nos telejornais, novelas, sejam nos programas infantis, nas músicas, para onde quer que a gente vá.

Pasmem, mas é verdade. Somos reféns da vontade dos outros e se não começarmos a abrir os olhos e buscar outras vistas, novos horizontes mais reais para mudar esse quadro de abandono que se encontra o cidadão brasileiro, em pouco tempo seremos uma nação dizimada pelas demandas da falta de tolerância e respeito a pessoa humana.