MEDO DE MORCEGOS

Pois é... Eu me lembro: a noite era escura e ali do lado, em meio às sombras, os morcegos, criaturas hediondas, podiam surgir a qualquer momento. Espreitando dos galhos das árvores podiam entrar por uma janela aberta e virem embaraçar-nos o cabelo durante o sono... Que medo! Imagine!

Morcegos... Seres sobrenaturais. Vampiros que podiam morder o pescoço e chupar o sangue de suas vítimas. A noite era terrível e eles, uma ameaça viva na escuridão... Voos rápidos, certeiros, sombras escusas a surgirem do meio do bananal, na fazenda de minha avó. Ruídos estranhos, sibilantes... Eram eles saindo para suas rondas notívagas... Ah, cabeça de criança que roda, gira, captura e transforma em monstros qualquer ser desconhecido...

A casa abandonada perdida no meio do matagal, a curiosidade infantil a explorar as ruínas: as paredes tortas, as janelas de madeira rachada, réstias de sol entrando pelas telhas quebradas... Um cenário desolador e eles lá! Horríveis cachos negros pendurados nos caibros cheios de fuligem e teia de aranha, dormitando a sesta... Ah, que sensação! Arrepiante!

Hoje os morceguinhos são mistérios totalmente desvendados. Nada de embaraçar cabelo, praticar vampirismo sem mais nem menos. São polinizadores, destruidores de pragas agrícolas, cordatos seres em seus hábitos e habitats... Tirando algumas coisinhas nocivas (afinal ninguém é perfeito) convivem com a humanidade em razoável estado de paz...

Morcegos, morceguinhos visitam meu telhado, andam por aqui, deixando seus restos de frutinhas e vestígios de passeios noturnos. Seres esquisitinhos (como todos nós) com suas asas macabras e suas orelhinhas espetadinhas! Pois é... Sei que estão por aqui, mas é só isso. Hoje, porém, dei com um deles dormindo tranquilamente sobre sacos de poda de jardim, no fundo da garagem... Ui! Confesso que não foi fácil... Ali, frente a frente... Ah, bichinho-vampiro-embaraçador-de-cabelo-de-meninas nunca vou me livrar da cisma que me ensinaram a ter de você...