Relacionamentos sem amor

Penso muito na frase de Saint’Exupery: “Somos eternamente responsáveis por aqueles que cativamos”. Essa é uma verdade relativa.

Que seria de nós, se tivéssemos que nos manter eternamente ligados a pessoas com quem já não comungamos sentimentos, nem outros interesses.

Somos sim, responsáveis pelas perspectivas que criamos, mas apenas até o limite do razoável e saudável na interdependência entre os envolvidos.

Uma vez que o afeto que motivou a relação, fenece, ou que um dos parceiros entenda que embora tenha havido amor, esse não foi o suficiente para manter a relação, é hora de reavaliar os motivos que os levou a iniciarem o envolvimento. Não importa por quanto tempo tenha durado.

É possível que nessa reavaliação, o tempo de convivência, experiências vividas lado a lado, tenham peso suficiente para tentarem reacender o interesse mútuo. Mas um deles abrir mão de recomeçar sua vida pela aparente carência e fragilidade do outro, é uma atitude um tanto covarde. Daquele que cede, como daquele que aceita essa “renúncia”.

O primeiro está na verdade, se acomodando à situação. É mais fácil permanecer no ruim conhecido, do que arriscar o desconhecido.O outro, o “frágil”, faz uso dessa aparência, acovarda-se diante do desafio de ir em busca de algo que na verdade, nunca teve na relação, mas ilude-se pensando impor sua vontade, prendendo aquela pessoa que já não a quer.

Ambos anulam sua auto-estima. Estão juntos, mas vivem cada um, em um mundo próprio. Sorriem, mas o sorriso é apenas um movimento dos músculos faciais. Seus sentimentos adormecem. Tornam-se incapazes de alimentar um afeto mais profundo, seja por quem for.

Vêem o mundo com sentimento de culpa e culpam o mundo pelas suas tristezas.

Somos responsáveis por quem cativamos, até o ponto em que o outro, usando de seu livre arbítrio, decidir permanecer atrelado a um compromisso que o tempo se encarregou de extinguir, ou seja, deixamos de ser responsáveis, no momento em que o outro decidir ser infeliz conosco, fazendo-nos infelizes também. (12/04/06)