A Perpetuidade do Nome João

Interessante! Conheci uma família com quatro gerações de Joões. Até agora.

O primeiro João de que se tem notícia na família é um tio por parte de pai, que poucos conheceram. Não se fazia inferência a outro anterior.

Este João, segundo comentários dos familiares mais velhos era um sujeito bastante simplório, quase chegando a uma deficiência mental (se não fosse, embora não detectada e tratada como tal), estatura mediana, truculento, olhos cor de mel, de espírito leve e vida inocente. A lembrança mais contumaz de que os sobrinhos tem dele é o relato que ouviram do pai (irmão de João), ainda quando crianças, de uma das aventuras da mocidade, no início do século XX.

O pai contava que ele, João e um tio saíram para namorar e no retorno, já à noite, precisaram se safar de um buraco na estrada da roça, fazendo com que o cavalo o saltasse. João embora avisado do perigo e repetisse em alto e bom som o alerta, não teve noção de que deveria saltar também com seu cavalo indo se estatelar com cavalo e tudo no buraco. As crianças riam até e o caso se tornou a lembrança do tio trapalhão.

Mesmo atrapalhado João se casou com uma moça de nome Cecília e tiveram filhos. Os sobrinhos somente o viram em um acidente que o pai sofrera, quando João esteve na casa do irmão para prestar-lhe cuidados. Depois desapareceu novamente. Atualmente nada se sabe da família desse tio. Talvez até haja um João filho ou neto.

Certeza mesmo somente de que na segunda geração, nasceu outro João. Menino russo, de cabelos encaracolados, olhos cor de mel e temperamento forte ( eufemismo para brigão).

Este João, assim como o tio, tem estatura mediana, mas conservou, por muito tempo, uma aparência mais esbelta, recompensa de seu trabalho como agricultor. Este que é sobrinho do outro, é um sujeito ativo, empreendedor, bastante centrado, de pouco tempo para visita a familiares (isso parece ter herdado do tio) e de muitos amores: Sebastiana, Edinéia, Maria...

Também se casou mais de uma vez e teve filhos. Cinco vezes. Tem netos, mas nenhum João, por enquanto. Mas um dos filhos é Jean. Um João importado.

A terceira geração de João é um sobrinho neto. Quando nasceu e os vizinhos e parentes tiveram conhecimento de que seria chamado de João, protestaram, alegando ser um nome démodé. Mas este era também Antônio. João Antônio. Antônio em homenagem ao avô materno e irmão de João, o primeiro. O João tio ficou feliz sentindo-se homenageado também. Porém o João em questão era o avô paterno. Mas era João. Já se perdeu na genealogia?

Este João é um rapaz loiro, alto, olhos da cor de mel, vinte e poucos anos, de espírito leve, aparência esbelta e empreendedor.

Sendo o terceiro na família, parece ter herdado em sua personalidade um pouco dos outros Joões. Ainda não se casou, mas já diz em tom de troça que terá um filho João. Quem sabe?

O futuro João, completando a quarta geração deles, será Miguel também. É um bebê em formação, prestes a ser trazido à luz, sendo o sobrinho bisneto do João, aquele moço de espírito leve e vida inocente do começo desta crônica. Ainda não se sabe muito deste João, o Miguel. Mas os membros da família acostumada aos Joões, ora para que seja mais um bom João, de espírito leve, honrado e que traga tantas alegrias a eles quanto lhes fizeram os outros.

Uma coisa é certa. Este João também terá olhos cor de mel. É dali que vem toda a doçura destes seres.