Há 50 quilômetros de João Pessoa existe uma cidade chamada Rio Tinto. Mesmo quando ainda desconhecia sua história, Rio Tinto sempre me apaixonou e me atiçou a curiosidade. Não era igual, nem ao menos parecida com nenhuma cidade paraibana. Era diferente em tudo. Toda vez que a visitava,voltava curiosa para descobrir o que era Rio Tinto.
         Voltei a Rio Tinto dias atrás. E, para que voce entenda um pouco, vou tentar falar dela para voce. Logo na entrada somos recebidos por uma fileira de imponentes palmeiras imperiais. Logo descobrimos que a cidade ainda gira em torno de uma fabrica. Vemos uma igreja grande, um mercado, mais de duas mil casinhas absolutamente iguais, todas de porta e janela, um cine-teatro e a famosa Vila Regina. (segundo comentários, foi edificada para abrigar Hitler após a vitória da segunda guerra). A impressão que temos é que Rio Tinto foi transplantada e ali plantada. O mistério continuava. Depois de mil conversas com antigos moradores, a verdade foi aflorando.
         Realmente, Rio Tinto foi fruto de um sonho. Umas familias alemãs decidem abandonar a europa e se radicalizar no Brasil. Local escolhido? O lugar perfeito, perto do mar, onde poderiam chegar pelo rio Mamanguape. Mas, exatamente para que?
Para implantação de um polo têxtil. Em 1917, os alemães compram uma vasta extenção de terra coberta de matas e manguezais. Logo tudo começou a ser desmatado. A lenha viria a servir para a queima dos fornos de uma olaria. Aproveitando o barro vermelho do local, começaram a queimar tijolos da cor sonhada pelos imigrantes: vermelho. Vermelho como as casas de sua longínqua cidade. De início, foi erguida uma enorme chaminé que seria o marco de todo o empreendimento. Depois veio a fábrica enorme para os padrões nordestinos. A seguir, o mercado, a igreja, o hospital e até um cine-teatro onde eram anunciados filmes em alemão. Todos seguindo a mesma linha arquitetônica e a mesma cor vermelha. A fábrica de tecidos viveu tempos áureos quando o algodão da Paraíba estava no auge. Chegou a empregar 12.000 operários com direito a moradia e plano de saúde. O tratamento dado aos trabalhadores, se por um lado era bom, por outro, era de extrema dureza. Qualquer deslize, havia punição.
       Com a chegada da segunda guerra mundial a situação começou a se agravar. Criou-se um clima de animosidade entre patrões e empregados, que chegou ao àpice quando a Alemanha afundou um navio brasileiro. Estava decretada a guerra em Rio Tinto. Os operários se reuniram e invadiram a fabrica, quebrando tudo e expulsando os patrões. Acalmados os ânimos e depois de alguns terem retornado a Alemanha, nunca mais a fabrica voltou a ser o que era. Era a falência à vista, logo depois concretizada. Hoje, herdeiros mantém um escritório para administrar as duas mil casinhas e locam alguns galpões para depósitos. A Universidade Federal da Paraíba ocupou uma parte e instalou um curso de Desing que funciona precariamente.
         Bem, hoje voltei a Rio Tinto. A imagem daquele gigante adormecido comove. Andei pelos galpões onde restam fardos de algodão, pedaços de trilhos, montes de telhas de vidro, enfim pedaços de uma história que terminou de maneira tão triste.
        Nos pés de ficus centenários, encontro uma preguiça, quem sabe uma vigia da história, ou uma testemunha de tudo que aconteceu alí.
       Voltarei a Rio Tinto!