Engoli o texto das pontas dos dedos

Um tantão de palavras me vêem à boca querendo que eu as cuspa, meus dedos se agitam, coçam querendo martelar o teclado catando letras; quase não contenho o impulso de num fôlego só esparramar nessa tela branca os pensamentos que em mim borbulham.

Levanto e sento uma centena de vezes, vou a cozinha atrás de um café, volto e confiro se há algum recado. Tento me concentrar para escrever pensamentos coordenados, dá branco, os dedos ficam atabalhoados e não conseguem digitar uma linha inteira com sentido compreensível, emperra a inspiração e a tela branca já começa a me incomodar.

Onde estão as palavras histéricas que açoitavam meus pensamentos? perderam-se em meio ao meu desassossego, curiosas com tudo que passa à minha volta se diluíram e se perderam dentro de algum lugar dentro de mim. Não adianta olhar para essa tela vazia e rabiscam letras de vários tamanhos, elas me olham e zombam da minha face patética; sabem que morreu mais um vez o sentido e o desejo de falar de coisas da minha sandice crônica.

Já não me levanto mais, com os olhos pregados na minha total falta de senso, percebo que não adianta ter as palavras amontoadas na língua, pedindo pra nascer, muito mais do que emoção, elas querem ter um sentido, elas me pedem uma precisão que não tenho, não um preciosismo exagerado.

Desligo os pensamentos, apago a tela que me incomoda os sentidos, guardo meus dedos no bolso e deixo meus olhos se aprumarem nalguma direção; meu corpo pede descanso e minha alma já não sobrecarrega minha razão.

Mais uma vez, vou engolir esse emaranhado de palavras e digerir a inconstância dessa vontade não correspondida de explodir o que pede os meus dedos afoitos contra a minha acuidade metódica mental.

Talvez melhor digeridas, verão a luz do dia.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 30/06/2005
Código do texto: T29211
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