Mozart em Paris

Planejei ouvir os 3 primeiros concertos para violino e orquestra de Mozart, respectivamente, K.207, K.211 e K. 216, com a orquestra de câmara Saint Paul, e com o notável violinista Pinchas Zukerman, também, os regendo.Como habitualmente faço, leio alguma coisa referente ao que vou ouvir; recorri ao livro de H.C.Robbins Landon- “Mozart - Um compêndio.” Curiosamente, os três concertos tinham como observações as datas alteradas.O primeiro datado de 14 de abril de 1773, a data foi alterada para 14 de abril de 1775; o segundo, com data de 14 de junho de 1775, alterada para 1780 e de novo para 1775; finalmente o terceiro com data de 12 de setembro de 1775, alterada para 1780 e de novo alterada para 1775. Segundo o autor, os concertos para violino foram compostos para serem tocados pelos violinistas de Salzburgo, e cita Antonio Brunetti; embora Mozart também os tivesse tocado. Continuei lendo por curiosidade, alguns detalhes das sinfonias concertantes, a K 364, em mi maior para violino e viola e a KV 297 B, para oboé, clarinete, fagote e trompa. Fiquei surpreso, que após a citação desta última, havia a seguinte observação: “De autoria incerta e espúria” , seguindo-se a assinatura de Robert Levin. Procurei o nome no índice remissivo, mas o encontrei na lista de colaboradores. Trata-se de Robert Levin, pianista de concerto, musicólogo, teórico; professor de piano na Staatliche Hochschule für Musik,Freiburg im Breisgau.Howard Chandler Robbins Landon nasceu em Boston (1926-2009) estudou música no Swarthmore College e na Universidade de Boston. Especializou-se na obra de Joseph Haydn, tendo publicado inúmeros livros sobre o compositor e sua obra. Escreveu 6 livros sobre Mozart, incluído o compêndio citado. Quanto ao Robert Levin, procurei seu nome no livro de referência “Arte do Piano – Compositores e Intérpretes” (2007) de Sylvio Lago, não o tendo encontrado, embora o citado livro seja um dos mais importantes sobre o tema.

Procurei alguma informação no livro “Mozart por trás da máscara” (2006) de autoria de Lincoln Maiztegui Casas; biografia com grande minúcia e rigor documental, lemos uma referência ao assunto. Quando Mozart esteve em Paris pela segunda vez, em 1778, tinha sido programada para um concerto a Sinfonia concertante KV297, que teve a apresentação cancelada e Mozart atribuiu a um boicote realizado por Giuseppe Maria Cambini, um músico nascido em Livorno em 1746, radicado em Paris desde 1773, e que tinha algumas sinfonias concertantes. Como não conhecia a música do citado compositor, baixei na internet e pude apreciar parte das sinfonias concertantes, a de número 12 para 2 violinos e a de número 5 em si sustenido maior. Atribui a história de autoria incerta e espúria a uma intriga da oposição. Coloquei o CD das duas sinfonias concertantes de Mozart, encerrei a controvérsia autenticando a autoria do mestre, do alto de minhas chinelas. Esquecia-me de dizer que Robert Levin foi aluno de Eleazar de Carvalho na matéria de regência. Que coisa desconcertante!