Sentimento de Perdas e o tempo.

Sentimento de Perdas e o tempo.

Por muitas vezes tentei entender o fim das relações amorosas. E assim alimentava a certeza que a causa estava no processo desgastante do tempo. Uma corrente cria e afirmava ser uma crise dos Sete Anos. Onde as pessoas estariam expostas, sendo preciso muita sorte e cumplicidade aliada à cooperação, para sobreviverem a esta fase da vida amorosa.

Mas como poderia ser o tempo o grande vilão e responsável?

Como? Se sempre nos pregaram como máxima, que é o próprio tempo que nos amadurecem nos tornando mais experientes?

É este mesmo tempo, que nos faz aprender e a repensar.

Sempre cri na expressão de dar tempo ao tempo para amenizar minhas mazelas e ou minhas aflições. O mesmo sempre atendeu minhas suplicas nos momentos de angústia concedendo-me as realizações dos desejos.

Foi com ele, o tempo, que aprendi a aceitar o sofrimento pelas mortes, as perdas que me cercavam num verdadeiro processo vendaval de eliminação das pessoas que mais amava e queria juntas de mim, em meus momentos de alegrias e tristezas. Elas eram retiradas como frutas amadurecidas de uma arvore frutífera e assim pensando passei a entender, que frutos maduros também apodrecem quando não colhidos. Também aprendi a assimilar a morte como um fruto que não mais pode ficar na minha arvore e a dor da perda tornou-se aceitável embora maltratasse pela nossa mania de achar que podemos ter para sempre ao nosso lado as melhores frutas sobre as quais já não temos mais propriedade.

Mas a pior perda mesmo em forma de morte é ter que enfrentar a estúpida e inaceitável inversão da partida, assim como dessas mães que enterram seus filhos em plena juventude, no ápice de seus sonhos dourados contrariando nossa lógica de nunca imaginar esta inversão. Assisti esta dor ao ver meus pais colocando sob a terra uma filha de cinco anos vitima de acidente domestico com fogo e mais tarde um filho de 33 anos vitima de infecção hospitalar. É muito triste e doído ver aquele olhar sobre o caixão como a querer a substituição com a própria vida, é a imagem mais triste que ficou gravada em minha mente para definir uma perda na ótica da morte.

Então perda é esta dor que não tem como estancar simplesmente entregando no colo do tempo, para que ele magicamente num sopro possa aliviar esta terrível saudade que carregamos para o resto de nossas vidas, como um fardo pesado.

“Do lado esquerdo carrego meus mortos.

Por isso caminho um pouco de banda.”

(Carlos Drummond de Andrade)

Um exercício para um blog.

Toninho

15/04/2011

Toninhobira
Enviado por Toninhobira em 23/04/2011
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