Páscoa é passagem

Com ou sem chocolate, uma boa oportunidade de reflexão

Todos os anos, às vésperas do Natal, me incomodo com as mesmas coisas: a preocupação única e insana de comprar, comprar e comprar presentes e encher a mesa de muita comida e bebida. E o aniversariante do dia passa sempre despercebido. Agora, na Páscoa, tenho observado a mesma coisa. Mal saímos do carnaval e lá estavam as lojas e supermercados lotados de ovos de chocolate pendurados por todos os cantos. E aí eu pergunto: Páscoa é só isso?

Para muitos que não devem se lembrar, ou mesmo não sabem, Páscoa é o mesmo que passagem. Este nome – pessach em hebraico – significa o fim da escravidão do povo hebreu (depois, judeus), após a travessia do Mar Vermelho, que se abriu para que eles passassem, conduzidos por Moisés, em busca da terra prometida. A partir da conquista da liberdade, todos os anos os hebreus comemoravam o pessach, ou Páscoa, numa festividade que durava oito dias.

Foi durante os festejos de Páscoa que Jesus Cristo foi preso e crucificado e sua ressurreição foi também uma passagem, da morte na cruz para a vida eterna. A Páscoa cristã é comemorada no domingo, o terceiro dia contando com o da crucificação.

No hemisfério Norte celebrava-se a Páscoa como o fim do inverno e início da primavera, também uma passagem, que para aqueles povos significava a renovação da vida, depois de meses de frio implacável. Pastores e camponeses se presenteavam com ovos, pois ele dá ideia de começo, nascimento, vida. O mesmo acontecia com as culturas pagãs e com os chineses, que já distribuíam os ovos coloridos. Os cristãos passaram a pintar os ovos no século XVIII e a Igreja os benzia e doava aos fiéis.

Finalmente, os ovos pintados foram substituídos pelos de chocolate. A justificativa para esta mudança pode vir da proibição do consumo de carne pelos cristãos, no período da quaresma, e o ovo estaria incluído entre as iguarias de origem animal.

Não posso me esquecer do coelho, né? Este animal também acabou ganhando notoriedade entre os cristãos nesta época do ano por sua grande fecundidade, portanto, símbolo de renovação da vida.

A tradição, que teve início com a libertação dos hebreus, hoje se limita a simples troca de ovos de chocolate. A passagem, mesmo considerada de formas diferentes pelos diversos povos, teve sempre o mesmo significado, o de renovação da vida, do recomeço, portanto, de reflexão. Até hoje os judeus promovem seus rituais de Páscoa, dentro de seus costumes, com jejuns e orações, enquanto a maioria apenas se empanturra de chocolate, aumenta o colesterol e ganha peso.

A imprensa em geral faz sua parte. Perdi a conta das reportagens exibidas nos diversos canais de TV sobre a venda de ovos de chocolate. Tamanhos e marcas variados, ovos de fábrica, ovos caseiros, pra mãe, pra namorada, pra sogra e, claro, os diferentes preços entre lojas diferentes, de bairros diferentes. Crianças são entrevistadas sobre suas preferências: ovos pequenos, ovos grandes, brancos, pretos, mesclados, recheados, com brinquedinho dentro. E fica só nisso.

Chocolate é uma delícia; também não abro mão do meu ovo. Aliás, esta é a única época do ano em que me permito tais abusos. Mas, convido-os, caros leitores, a aproveitar mais esse pessach em nossas vidas para pensar: de que preciso me libertar neste momento? O que necessito renovar na minha vida? Que recomeço quero promover a partir de segunda-feira?

Quem topar a reflexão, pode deixar sua sugestão nos comentários.

Feliz Páscoa para todo mundo!

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 23/04/2011
Código do texto: T2926835
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