HOMOFOBIA

Era inevitável a conclusão, eu havia afastado de mim todas as pessoas que eu gostava, por um único motivo, ORGULHO, não o orgulho imponente de quem satisfaz-se ou alegra-se por alguma razão, mas o orgulho medíocre, de quem é superestimado mesmo, eu definitivamente havia chegado no exato nível de mediocridade que abominava nas demais pessoas. Havia passado tanto tempo de minha vida dedicada a afastar as pessoas de mim que nem percebi que de fato elas estavam se afastando, me tornei uma pessoa mesquinha e hipócrita, como mesquinhas e hipócritas eu costumava achar que as pessoas eram, meu olhar voltado ao cisco dos olhou alheios era incapaz de notar a trave em meus próprios olhos.

Achei durante bastante tempo que a minha sexualidade era algo que precisava esconder porque as pessoas detestariam ter uma amiga homossexual, quando na verdade eu mesma detestaria ter uma amiga tão superficial, quanto percebi que estava sendo. Pensei com meus botões, chorei a minha solidão, no vazio da madrugada a té que o sono se incomodasse e nem viesse mais me visitar, chorei madrugadas a fio. Pois Bem, não era fácil admitir que minhas amigas mulheres, todas se afastaram de mim e que o motivo não fosse minha sexualidade, Definitivamente pensar assim era fácil, era esconder minha personalidade maquiavélica e perversa, atrás de uma névoa homofóbica, que nem humildade suficiente pra descobrir possuía. De repente eu já não era bem vinda, de repente amigos me deletavam das redes sociais, sem motivo aparente, de repente, minha presença incomodava, homofobia, só podia ser. Só podia ser aquilo que eu temia e que por tanto tempo quis esconder, como não ser passional?

Tentei, por vezes, eu juro que tentei, tentei dissipar em minha mente os pensamentos de homofobia, porque eu era sim homofóbica, nunca aceitei minha sexualidade, nunca a fiz bem vinda, e via no afastamento das pessoas que eu amava os mesmos pensamentos que me povoavam, “lésbica”, como quanto ouvi uma colega de trabalho dizer, que tinha medo de ser atacada, por uma menina porque ela era homossexual, aqueles pensamentos me irritavam, porque sabia que no fundo as pessoas pensam assim, como se homossexualidade fosse uma perversão sexual, como evitar que eles sentissem isso com relação a mim? Procurei não esconder isso, não esconder minhas preferências, e cada dia menos pessoas haviam que ainda admitiam minha presença.

O que gostaria mesmo de saber, era qual parte de mim era mais abominável aos olhos dessas pessoas, minha personalidade perfeccionista e extremamente crítica, minha homossexualidade, minha tendencia ao negativismo? Por mais que eu me considere insuportável, a grosso modo (nada de irreverente ou qualquer palavra que atenue essa visão) o termo técnico é insuportável mesmo, por mais que eu perca todos os meus amigos por esta exata razão, não me parece acertado. A razão mais aparente talvez seja a união desse gênio difícil, à idéia daquele antigo ditado “diga com quem andas e eu te direi quem és”, uma forma que dizer, por favor eu não me afastei de você, eu gosto de você, mas mantenha distância. Entende?

Não raro isso me afeta sim, perdi grandes amigos quando souberam da minha orientação, há quem diga que não eram amigos de verdade, porque amigos de verdade não se afastam de você por isso, pra mim eram amigos de verdade sim, os amigos que eu fiz, que eu conquistei ou que me conquistaram, pessoas únicas, que hoje se privam de minha presença e que me privam da presença deles por motivos que por mais que eu tente imaginar, não posso saber com precisão, foram amigos de longas datas, outros recentes, geralmente, de diversas religiões, católicos, protestantes, e espíritas, de religiões que aceitam, de religiões que rejeitam, sem religião, sem pré-conceitos, mas com vergonha, uma dose de vergonha de andar por ai, de falar e/ou discutir com uma homossexual.

Perdi amigos, e ainda perderei muitos, nem me preocupa saber se farei outros, se meu gênio ruim me permitirá, reconhecer o quanto também tenho contribuído para esses afastamentos espontâneos das pessoas. Sei que não sou uma pessoa compreensiva, só estou tentando, tentando não ser tão abominável, tão terrivelmente implacável, tentando não me deixar no centro do universo, pra não ser notada, não precisar ser achincalhada, e lembrar que podem sim me deletar, podem sim me afastar, que quando quiserem a minha amizade de volta, quando eu for uma pessoa normal aos vossos olhos, meus braços ainda aceitarão abraços, meu rosto ainda receberá beijos, e minha casa e coração continuarão abertos.

ELIENE COSTA
Enviado por ELIENE COSTA em 24/04/2011
Código do texto: T2927847
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