Os cegos e o elefante

Um grupo de cegos foi colocado diante de um elefante para definir o bicho pelo tato. Para um o elefante era a tromba, para outro a presa ou a cauda, etc. A estória é conhecida.

Eu penso assim a alma humana.Com várias facetas, todas reais em relação ao todo, nenhuma verdadeira separadamente.

Gosto de observar as pessoas durante pregações ou palestras. Parecem estátuas. No entanto cada cabeça fermenta de idéias. Nenhuma transparece. Se abordarmos a pessoa, cada idéia vem de per si. As outras ficam escondidas ou só aparecem em outra circunstância. Jamais o todo!

Por outro lado, quando queremos sair dos estreitos limites do ser, só conseguimos mostrar uma faceta de cada vez. Cada um tem de nós uma idéia diferente. Juntando-se todos os pareceres tem-se o indivíduo.

É um pouco nossa culpa: queremos às vezes projetar tal e tal imagem que nos favoreça mais, ou, como parece ser moda -"com que personagem estou falando agora?" - . Não creio que se trate de representação pura e simples: seria mentiroso e consciente -atitude estudada-. Nem sempre é assim. No entanto, muito dificilmente conseguimos ser para o outro algo mais que fragmentos.

Talvez seja por isso que em plena era da comunicação, a comunicação pareça impossível. Cada ser é um universo fechado, intransponível e incomunicável (a não ser pelo amor). Nosso principal meio de comunicação, a linguagem, está falido e gasto. E volto sempre a me lembrar de Mallarmé, obcecado pela perfeição da folha branca, única maneira de dizer tudo sem dizer nada.