Ausência

E eis que ele que quando chegou em casa, os móveis já não estavam lá. Não havia mais cama, nem sofá, nem uma peça de roupa daquela que há muito tempo lá vivia. Estava tudo vazio, sem cor, sem brilho, sem sabor, estava tudo acabado! E ele sabia que a culpa havia sido de ambos e não havia mais como voltar atrás, pois há muito tempo eles machucavam um ao outro. _Quanto tempo se vive uma vida a dois sem que nada atrapalhe? Ele se perguntava, mas não conseguia resposta. Amor já não era o suficiente, perdeu-se muita coisa pelo caminho, coisas que se não tivessem sido perdidas seriam diferentes, mas que ele sabia e tinha noção de que não adiantaria mais se lamentar. Já havia acontecido, não dava para voltar atrás. Tudo parecia claro agora, tudo que faltava antes e que poderia ter sido suprido se eles percebessem os erros que estavam cometendo. _Ah, se fosse diferente, se eu soubesse o que ela sentia e se ela tivesse me compreendido! – mas ela não queria nem mais falar e nem ouvir a voz daquele que ouvira por tanto tempo. Ela disse chega, ela não suportou mais, ela estava morrendo com tudo aquilo. As pessoas não percebem muitas vezes, mas quando ferem alguém com palavras e atitudes, estão matando a alma daquele que agüenta calado todas as agressões causadas e esses danos não possuem remédio, eles ficam lá para sempre... E ele sabia que ambos carregariam essas feridas expostas e abertas pelo resto de suas vidas, mas também ele sabia que não deveria se arrepender do tempo que estavam juntos. No fundo ele sabia que ela fazia parte da felicidade que possuiu por um tempo da sua vida, do tempo onde não importava o resto, mas apenas os dois. Do tempo em que a desconfiança e o ciúme não existiam, do tempo onde apenas palavras doces eram proferidas de suas bocas, do tempo onde apenas o amor já era mais que o bastante. Ele tinha plena consciência do que havia destruído os dois, os mais ácidos e nocivos sentimentos que cada casal deve suportar e nunca deixar que aconteçam e tomem um espaço que não é deles: a desconfiança e o ciúme. Esses dois sentimentos conseguem muito mais do que parece, eles conseguem com tempo acabar com todos os outros sentimentos que fazem felizes as pessoas, e com eles trazem a mágoa, o ódio e a indiferença ao outro. E quando isso acontece, os resultados são irreversíveis. Ele olhou mais uma vez a casa vazia, ele sentiu hora a hora passar e ele estava sozinho novamente, coisa que não acontecia há tempos. Sentiu falta do sorriso dela e então percebeu que eles deviam ter dado mais valor um ao outro, mas que as pessoas tem o maldito costume de esquecer de fazer.

Ellen Koteski
Enviado por Ellen Koteski em 26/04/2011
Código do texto: T2931938
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