'SERIA ESSE ESTADO UMA FUGA DO COMUM OU DO TEDIOSO?       
 
 
A impressão que eu tenho é que eu vivo em “estado de romance” vivendo aventuras , recriando a vida num plano que satisfaça o meu imaginário, onde o real torna-se uma irrealidade mais viva que a realidade exterior. Seria esse estado uma fuga do comum ou do tedioso pelo mergulho do meu espírito noutra dimensão, até mesmo fora das fronteiras reais?

Esse estado de coisas não é só privilégio do meu espírito inquieto. Estou lendo a biografia de Lou Andreas Salomé que viveu entre os anos 1861/1937, russa de nascimento, copiou dos homens o modo de vida, mas não foi uma mulher masculina. Exigiu a liberdade de mudar, evoluir, crescer. Afirmou sua integridade contra o sentimentalismo e as definições hipócritas da fidelidade e do dever. Não foi uma feminista, mas lutou contra o seu lado feminino para manter a integridade como indivíduo. Ela fez uma síntese de sua própria vida: “ A vida humana – na verdade, toda a vida – é poesia. Nós a vivemos inconscientemente, dia a dia, fragmento a fragmento, mas, na sua totalidade inviolável, ela nos vive.” Essa mulher fabulosa conviveu e exerceu forte influência sobre Nietzsche, que reconhece ter escrito Zaratustra por inspiração dela; também sobre Rilke e Freud. Biografia da autoria de H.E Peters,  que me foi presenteada pelo    meu amigo José Cláudio Adão.


A citação feita de Lou Salomé é porque encontrei similaridade entre nós no que diz respeito à fuga da realidade . Conforme registrado na sua biografia, a impressão que ela tinha era de estar só no mundo, só que o seu universo interior  era povoado de gente de toda sorte e de todas as condições, frutos de sua imaginação viva. Ela inventava aventuras estranhas e maravilhosas, das quais participava tão intensamente que, para ela, eram mais reais do que o mundo e as pessoas que a cercavam    Podia passar horas nesse estado de sonho encantado, indiferente à fuga do tempo e totalmente absorvida por seu universo especial . Essa faculdade de se bastar a si mesma, tornou-se parte permanente de sua personalidade. Durante toda a sua vida, ela teve dificuldade em estabelecer uma distinção entre seu mundo imaginário e o mundo em que viviam os outros.


Assim foi Lou Salomé vida afora... E eu trilhando o mesmo caminho sentindo as mesmas dificuldades  em distinguir  o mundo imaginário e o real.

 
 
 

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 27/04/2011
Reeditado em 27/04/2011
Código do texto: T2933460
Classificação de conteúdo: seguro